sábado, fevereiro 17, 2007

Bingo!

A DIA D, revista que acompanha o jornal Público, aparece às vezes com umas coisas interessantes. Desta vez o director, João Cândido da Silva foi directo ao que interessa em época que continua de contenção, embora o ruído provocado pelo referendo nos tenha distraído um pouco; o binómio trabalho/capital e a desvalorização que o primeiro tem sofrido com o fenómeno da globalização. Vai directo ao que interessa porque? Porque constata a evidencia e questiona sobre os mecanismos de controlo à disposição dos governos? Porque pergunta se as políticas de contenção salarial serão a arma certa para as nações desenvolvidas enfrentarem as economias emergentes. Porque questiona a distribuição dos ganhos de produtividade, decorrentes de reestruturações empresariais e dos avanços tecnológicos, sempre no sentido da remuneração dos accionistas, do capital, portanto. É certo que se refere aos países desenvolvidos em geral, e não a Portugal, onde o problema é ainda mais agudo, devido a uma iniciativa privada pouco empreendedora e a um Estado que pesa demasiado na economia. Mas também é certo que é em Portugal que o sector da banca bate recordes sobre recordes de lucros, como vimos na semana passada, quando os restantes agentes económicos estão à beira da asfixia. É absolutamente necessário que o Sr. Ministro das Finanças faça a sua própria reflexão sobre o assunto porque, convém que ninguem se esqueça, faz parte de um governo socialista.

1 comentário:

José Moinho disse...

Pois é! A estratégia do regime fachadista é fazer esquecer as questões fundamentais com o carnaval mediático.
Através do controle exercido sobre os media e sobre os centros de produção do saber, conseguiu a moderna censura eliminar das reflexões as questões mais estruturais. A moderna censura actua de forma singela, através do medo de colocar questões que possam desagradar aos poderosos, questões que possam ser consideradas utópicas e questões que estejam historicamente conotadas com radicalismos mesmo que se apresentam com conteúdos absolutamente distintos. Já não se trata do medo de ser preso e torturado mas do medo de ser despedido, do medo de perder o comboio da carreira profissional e ficar fragilizado e descartável, do medo de ficar excluído da sociedade, em suma, do medo da fome, do medo do ostracismo, do medo da doença que, já hoje, só muito dinheiro e influência pode tratar.
Eis algumas dessas questões, para as quais existem muitas respostas mas que foram tão fortemente censuradas que já até a existência destas questões é ignorada pela generalidade dos cidadãos.

1. Sistema político
Como conseguir que os cidadãos analisem a qualidade de cada política ministerial, apesar da crescente complexidade da gestão das sociedades modernas? Como estatuir a possibilidade de grupos abertos de cidadãos analisarem e decidirem sobre cada tema, em substituição das eleições de massa, nas quais todos votam em tudo sem nada saberem efectivamente? Como conseguir que as metas dos governos sejam avaliáveis objectivamente e transpostas num só indicador composto? Como estatuir orgãos governativos com mandatos de longo prazo e com compensações para os seus membros em função da evolução dos indicadores compostos que proponham?

2. Mass media e direito à informação plural
Como conseguir que todas as perspectivas contrárias, sobre um dado tema, cheguem ao conhecimento dos cidadãos, mesmo aquelas que são perspectivas muito minoritárias? Como equilibrar a previsível parcialidade de órgãos de comunicação detidos por grandes poderes económicos, com outras fontes informativas? Como evitar a passagem disfarçada de posições políticas e ideológicas em peças informativas e recreativas? Que direito têm todas as forças políticas de se pronunciarem criticamente sobre cada peça mediática e como isso pode ser incluído nas peças mediáticas? Pode a publicidade comercial, veiculando propaganda a estilos de vida, ser substituída por informação comparativa, acessível mas não intrusiva? Que necessidade de que um observatório do pluralismo analise o pluralismo com que são tratados temas fundamentais nos media?

3. Capitais Públicos
Sem capitais públicos rentabilizando-se no mercado como assegurar o financiamento do Estado Social? Será viável impor impostos a empresas internacionais com facilidade de se deslocalizarem e negociarem condições directamente com os diversos Estados? Podem as PME suportar os custos do Estado Social, através dos seus impostos, apesar de sofrerem a concorrência com as grandes empresas internacionais, bem como com PME´s de países sem Estado Social? Como assegurar um ritmo de desenvolvimento elevado sem um conjunto de empresas públicas, em livre mercado, mantendo um elevado ritmo de investimento? Como evitar os monopólios de informação a não ser com empresas públicas de vulgarização e demonstração?

4. Valores e projectos sociais
Como contribuir para a profunda adesão emocional a valores éticos de paz, bem estar pessoal e cooperação, que não sejam um incentivo ao imobilismo social? Como avaliar e contrabalançar a exibição de violência e a promoção do consumo, ecológica e socialmente insustentável? Qual o papel dos projectos comunitários altruístas e do voluntariado no desenvolvimento da compreensão ética? Como, dentro de cada organização, conciliar a eficiência e competição com o desenvolvimento da ética e da cooperação?

Esta são algumas de entre dezenas de questões fundamentais ostracizadas pelo fachadismo moderno. Até quando o império do medo?
José Moinho
manifestoliberista.blogspot.com