Há dias, o i publicou uma entrevista com Angel Gurría, Secretário-Geral da OCDE, à qual a blogosfera não parece ter prestado grande atenção. Coisa estranha, visto que o entrevistado fala essencialmente sobre Portugal, a crise, e as medidas necessárias para a enfrentar. Noutros tempos, dir-se-ia que o conteúdo não era do agrado da direita liberal que tinha a predominância nos blogues tugas. Hoje, as coisas já não são bem assim, mas é de qualquer forma admirável como tudo que possa ser minimamente agradável para com este governo é ignorado pela comunidade blogueira. Para introduzir um pequeno grão de areia na engrenagem, decidimos reproduzir aqui alguns excertos. Os sublinhados são nossos.
“As grandes obras planeadas pelo governo português não agravam o desequilíbrio crónico da economia e o endividamento do estado?
…é preciso fazer um esforço orçamental excepcional para enfrentar uma situação excepcional.
Portanto, na sua opinião, é economicamente mais eficaz construir estradas, TGV e Aeroportos?
Segundo os cálculos da OCDE, as despesas em infra-estruturas são a melhor maneira de combater as crises. Conciliam impactos imediatos na procura e no emprego, e com efeitos mais duradouros.
É melhor investir em estradas do que em equipamentos sociais e qualificações?
Temos de investir em tudo. Há diferentes tipos de infra-estruturas, mas uma coisa é certa: os grandes planos para edificar aeroportos, rodovias, TGV, vão garantir um maior potencial da economia no futuro. São projectos com efeito de curto prazo – a construção – mas são também estruturantes, pois mudam a face do pais, aumentam a competitividade. Claro que tem de existir condições de mercado, que os consórcios públicos e privados estejam formados. Importante é que os projectos arranquem no sitio e no tempo certo, que haja um impulso financeiro importante quando a economia mais precisa.
Como?
Com mais despesa publica e, nos países que puderem faze-lo, com redução de impostos. Mas está provado que o alivio fiscal funciona melhor quando é feito nos escalões de rendimento mais baixos. Se reduzirmos impostos às pessoas da classe média e média/alta, isso tenderá a produzir mais poupança, sobretudo nos momentos de crise e incerteza. Mas o que vai para a poupança não vai para consumo e isso agrava a recessão.”
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