Por Filipe Moreira
“O invulgar do quotidiano em narrativas tradicionais”
“O invulgar do quotidiano em narrativas tradicionais”
Domingos Pintado é um antigo professor de Liceu, hoje aposentado, portuense de gema e amante do que se tem por hábito apelidar de prazeres da vida - um bom cigarro, um bom vinho, uma bela mulher, uma bela conversa. Para além disso, adora contar histórias (ou estórias, para usarmos uma palavra que acentua o seu carácter ficcional). Precisamente um conjunto de estórias é o que este antigo professor de Liceu nos oferece em Pessoas, animais e outros que tais . Estórias à maneira antiga, se quisermos, dessas que relevam do prazer de serem contadas, e de pouco mais. Apraz-nos acentuar este ponto, depois de, ao longo do século XX, tanto se ter proclamado, em tonalidades diversas, a morte da narrativa tradicional, a qual se limitaria a provocar no leitor a ânsia de seguir o rumo dos acontecimentos. Facilmente se constata como, apesar de tantos e tão veementes ataques, continuamos, hoje como ontem, a sentir um indesmentível conforto sempre que ouvimos o "era uma vez...", ou fórmulas afins. E textos como estes do Dr. Domingos Pintado muito contribuem para esse indesmentível conforto.
As estórias deste volume são, todas elas, pedaços do quotidiano (do próprio Dr. Pintado ou de outrém) marcados pelo insólito, pelo pitoresco ou por uma discreta exemplaridade. Através delas, ficamos a conhecer uma simpática velhinha que compra um prato porque a figura que ele tem estampada lhe lembra o seu pai, do qual não possui nenhuma fotografia ("O Retrato"); um mentiroso inveterado que acaba vítima das suas patifarias ("O Cinéfilo"; "Pelúcia"); o burrinho que morre de desgosto por ter perdido um fiel companheiro ("O burro do marquês"); um simpático agricultor particularmente afeiçoado à sua vaca ("A Gertrudes"); e tantos outros.
Traço comum a estes textos é o ambiente portuense, ou nortenho, em que se desenrolam, dando-lhes uma cor local bem conseguida e reforçada pelo uso de diversos termos do calão ("madameco", "neres", etc.). Quem conhecer bem o Porto actual, ou o de há algumas décadas atrás, por certo não deixará de o reconhecer no retrato que aqui nos é apresentado. Retrato físico, mas também social, que se detém no ambiente dos alfarrabistas, dos cafés, das cooperativas culturais, dos bordéis ou dos Liceus.
Um aspecto curioso deste livro é o facto de as suas narrativas se escalonarem no tempo, desde as primeiras, cuja acção decorre, ainda, no Portugal salazarista, até às últimas, já dos nossos dias. Constituem, por isso, um quadro evolutivo da sociedade portuense e portuguesa, através do qual nos vamos apercebendo das mudanças e das resistências às mudanças que se têm verificado nas últimas décadas. Para além disso, esta arrumação permite-nos seguir a evolução e as transformações do Dr. Pintado. Vamo-lo acompanhando em vários momentos da vida, desde quando professor e casado, até quando vendedor de antiguidades, viúvo e acompanhado pelo cão Púchkin, o que nos provoca algumas surpresas.
Quem diria, por exemplo, que o Dr. Pintado, pacato frequentador de bibliotecas e fidelíssimo a sua esposa, seria capaz de viver uma aventura tão fortemente erótica como a que nos narra em "O preço da Ilusão"? Embora tenha mudado (ou tenha parecido mudar), há, igualmente, aspectos em que foi permanecendo igual. Um caso paradigmático é a sua constante e por vezes dolorosa autoculpabilização pela inércia com que, ao longo dos anos, foi assistindo às marés políticas, incapaz de se opôr ao salazarismo ou aos abusos posteriores, e considerando-se pertencente a uma «esquerda tardeira, pós-Abril, com que nos vingávamos de termos tido o que merecêramos durante cinquenta anos... esquerda que baste para apagar essa memória, expiar essa culpa...» (in "Para que presta um Homem?"). Constante, também, o seu gosto por contar estórias, o que o leva a registá-las num caderno e a prometer-nos mais algumas, «caso o Dr. Pedro Batista dê o seu aval». Porque, falta dizê-lo, se ficámos a conhecer o Dr. Domingos Pintado, devêmo-lo a Pedro Baptista, portuense, professor de Filosofia e escritor.
Baptista, Pedro. Pessoas, Animais e Outros que Tais, Porto: Campo das Letras, 2006.
2 comentários:
Grande Avelino
Ainda por aqui?
Bonita esta homenagem ao Pedro Baptista que, sinceramente ainda não conhecia na sua faceta de escritor.
Devorei este livro, em duas ou três noites e posso afirmar, sem qualquer rebuço, que é raro eu gostar assim de um livro e leio muito, mesmo muito.
Um abraço para si e para o Pedro que, se vier a ler este "post" e este comentário, leva já daqui os meus parabéns.
Grande livro Pedro
Gostei mesmo muito
Um abraço
António Moreira
««««mini----...----spam»»»
---> Os Políticos não podem ser os 'Bodes Expiatórios'!...
---> O problema também não está nos 'alienígenas'...
---> O problema está nos Parasitas Engenhosos (vulgo Parasita Branco -> a maioria dos europeus) que pretendem andar na Curtição-Parasita... ou seja:
-1- Pretendem andar no Planeta a curtir mão-de-obra servil imigrante ao 'preço da chuva'...
-2- Pretendem andar no Planeta a curtir a existência de alguém que pague as Pensões de Reforma [apesar de... nem sequer constituírem uma Sociedade aonde se procede à Renovação Demográfica!!!]
( ... antes que seja tarde demais... )
O caminho a seguir é o SEPARATISMO ÉTNICO:
------> 1) um espaço ( 50% ) de Competição Global;
------> 2) outro espaço ( 50% ) de Reserva Natural: para a preservação das Identidades Étnicas Autóctones.
{ ver: separatismo-50 }
NOTA 1:
O Espaço de Competição Global (50%) será para aqueles europeus (a maioria: Parasitas Engenhosos -> vulgo Parasita Branco) que que pretendem andar na Curtição-Parasita...
NOTA 2:
O Espaço de Reserva Natural (50%) será para aqueles europeus (uma minoria) que pretendem estar no Planeta - com dignidade, coragem e determinação - a Lutar pela Sobrevivência da SUA Identidade.
NOTA 3:
- Todos Diferentes!... Todos Iguais!...
---> Isto é, todos os Povos do Planeta - inclusive os de menor rendimento demográfico, inclusive os economicamente menos rentáveis - devem possuir o Legítimo Direito de ter o SEU espaço no Planeta -> em particular, devem existir Espaços de Reserva Natural para a preservação das Identidades Étnicas Autóctones.
ABRAM OS OLHOS:
Ao mesmo tempo que falam dos problemas ambientais existentes no Planeta... os Parasitas Engenhosos [com o objectivo de branquear a sua Parasitagem no Planeta] são INTOLERANTES para com a existência de Sociedades Alternativas {1- Sociedades de Responsabilidade Demográfica; 2- Sociedades de Responsabilidade Ambiental,... ou seja: Estados Étnicos para a preservação das Identidades Étnicas Autóctones -> Reservas Naturais de Povos Nativos}...... pois...... a Ocupação da Europa por outros Povos - SUBSTITUIÇÃO POPULACIONAL - deve ser considerada um processo «perfeitamente natural»...... e não...... o resultado da acção de um Bando de Parasitas (vulgo Parasita Branco) que pretende andar no Planeta a Curtir à custa dos OUTROS.
P.S.:
Veja-se aquilo que aconteceu na Bélgica:
-> Face ao crescimento do partido Separatista Vlaams Belang... a Parasitagem Engenhosa belga desatou a naturalizar imigrantes (e filhos de imigrantes) em 'quantidades industriais'!... Pois... os imigrantes (e filhos de imigrantes) são uns Predadores Insaciáveis que ambicionam ter o Caminho Livre para Ocuparem e Dominarem mais e mais novos territórios!... Logo... eles irão combater o Separatismo Étnico Autóctone.
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