Infelizmente nos últimos anos se pretendemos falar da situação política portuense temos que começar por observar a situação na capital já que as lideranças partidárias a norte estão genericamente subjugadas às respectivas sedes nacionais, como é o caso de Rui Rio, Renato Sampaio, Rui Sá/Honório Novo e João Teixeira Lopes.
Então, mesmo não concordando com o condicionalismo, aceitemo-lo como uma inevitabilidade e comecemos por Lisboa para chegar ao Porto.
O município da capital é actualmente liderado por António Costa, figura de grande capacidade política e assumido pelo aparelho partidário socialista como a reserva política do PS para o futuro. O Presidente lisboeta parece estar em trânsito para substituir José Sócrates mas terá pela frente um duro desafio, pois neste ano apresenta uma candidatura que o obriga a estabelecer uma estratégia vencedora no âmbito de um intrincado cenário de divisões. António Costa tenta congregar apoios num espectro onde à esquerda existe uma manta de retalhos complexa, um mosaico composto pelos tradicionais partidos, PCP e BE, mas acrescido de José Sá Fernandes e da Alegrista dissidente Helena Roseta. Isto contra o seu adversário principal, Santana Lopes, que apesar de “titubeante” consegue juntar a direita numa coligação que já muitos duvidavam pudesse vir a acontecer.
Depois do Congresso Socialista, Costa deixou claro que não haverá espaço para coligações à esquerda, logo o combate político far-se-á, não em dois blocos mas sim centrado na capacidade de Santana coligir os votos da direita e de Costa conseguir penetrar no eleitorado tradicional dos comunistas e dos bloquistas. O forte ataque de Costa em Espinho aos partidos de esquerda acabou por determinar o final da especulação em torno da possibilidade de coligações do PS nas autárquicas, pois um entendimento entre PCP, BE e PS em Lisboa poderia contaminar outros municípios importantes, nomeadamente no distrito de Lisboa e do Porto.
A Norte, no Porto, onde por coincidência Rui Rio é, tal como Costa no PS, visto como o provável futuro líder social-democrata, existe ainda um pequeno tabu: o anúncio da sua candidatura autárquica ainda não aconteceu!
Respaldado pelo facto de ser em Lisboa o mais bem-amado presidente de uma câmara nortenha, continuam a alimentar-se especulações sobre a possibilidade de Rio ceder às pressões daqueles que preferiam vê-lo discutir as legislativas com Sócrates em vez das autárquicas com Elisa Ferreira. Assim sendo, tal como António Costa também Rui Rio concentra neste ano as suas estratégias para um último mandato em que se apresenta mais como candidato a futuro candidato a primeiro-ministro do que candidato a Presidente da Câmara. E se a sua vitória surgiu mais pelo desagrado portuense com as ambições nacionais de Fernando Gomes do que pelo seu mérito, hoje, oito anos volvidos, a história pode até repetir-se.
É neste contexto, nomeadamente pelo seu significado na política nacional, que a questão se impõe: “Irá o candidato Rui Rio comprometer-se a realizar o mandato até ao fim?”.
E já agora, Quem será o número dois da coligação? Afinal, será ele o putativo candidato a futuro presidente da Câmara, o herdeiro de Rui Rio escolhido pelo próprio.
Na verdade, a disputa no Porto é tão emocionante como a de Lisboa e o seu peso no futuro nacional é tão relevante como o da capital, simplesmente os protagonistas são diferentes e só por isso os menos atentos poderão achar mais fácil a vitória de Rui Rio no Porto do que a continuidade de António Costa à frente dos destinos lisboetas.
“E se Elisa Ferreira ganhar as Eleições?”
É que no Porto as eleições autárquicas não serão “favas contadas” e o herdeiro de Rui Rio poderá afinal ser uma herdeira - Elisa Ferreira, pois não acreditamos que a sua vitória seja surpresa maior do que a derrota de Fernando Gomes em 2001, ou visto de outro modo, que a derrota de Rui Rio em 2009 seja mais surpreendente do que a sua inesperada vitória de 2001.
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