segunda-feira, dezembro 12, 2005

Sem sombra de pecado




Embora tenha passado relativamente despercebida, a noticia circulou em vários órgãos de comunicação social, nacionais e estrangeiros; Bento XVI acabou com o limbo.
Diz que mesmo o próprio inferno tem os dias contados, que os tempos já não estão fáceis por aqui, quanto mais agora ainda um inferno à séria, com almas a arder em sofrimento eterno, vítimas dos seus próprios pecados, a carpir as suas culpas.
Não, definitivamente os tempos não estão para isso. Os relativismos culturais, multidoutrinais, o pluralismo religioso, impele a igreja a repensar a sua relação com os fiéis e ela própria a relativizar conceitos e definições consagradas.
Quanto a mim o problema é mesmo este, esta quase materialização de conceitos na vida das pessoas, que depois, afinal, não passam disso mesmo, e que tão facilmente quanto aparecem, se vão. Deixando para trás um rasto de angustia e sofrimento de milhares e milhões pessoas.

Porque o limbo teológico é isto:
"In theological usage the name is applied to (a) the temporary place or state of the souls of the just who, although purified from sin, were excluded from the beatific vision until Christ's triumphant ascension into Heaven (the "limbus patrum"); or (b) to the permanent place or state of those unbaptized children and others who, dying without grievous personal sin, are excluded from the beatific vision on account of original sin alone (the "limbus infantium" or "puerorum")."


Mas o limbo é também uma linguagem de programação informática, uma famosa canção de Chubby Checker, pelo menos um filme de hollyhood, uma dança, nome de várias associações, etc..

É muito para acabar assim, sem mais. Sem referendo, sem votação, sem debates televisivos, sem processos na procuradoria-geral. É que apesar de tudo sempre tem uns anitos. Um não-lugar com 102 anos e um verdadeiro buraco negro da cultura ocidental.

João Paulo II tinha já dado uma forte machadada no inferno, redefinindo-o apenas como o lugar daqueles que se afastam dos caminhos de Deus em oposição a uma visão mais comum, mais dantesca, caracterizada pelos horríveis sofrimentos, pelos eternos gemidos, pelas blasfémias e pelos lamentos. (Eu cá acho que foi premonição de Dante, esse lugar só apareceu recentemente na blogosfera portuguesa). Mas Bento XVI foi mais longe, convenhamos que foi preciso coragem para acabar com o limbo. Bem-haja.

4 comentários:

Anónimo disse...

Isso não é suficiente, agora é necessario desenterrar as criancinhas, que foram sepultadas no cemiterio em terreno não Sagrado e dar-lhe um funeral condigno

no interior do pais existem casos desses, geralmente filhos de imigrantes ou filhos de pais não catolicos, que eram sepultados no extremo do cemiterio em terreno «neutro» , afastados de todos os outros.

com o aumento de mortos no interior do pais, as diferenças já não são tão notaveis, mas há 25 anos atras era chocante , ver uma campa de bebe no extremo do cemiterio , isolada... só porque não tinha recebido o baptismo e mesmo sendo menor era colada em Stand By pela igreja

Agora já não é assim, kem manda no cemiterio é a junta , vende a campa e pronto, o unico problema é conseguir campa quando não se é de do partido ke hà 20 anos ganha as eleições

Anónimo disse...

Pois, pois, muito bem dito. Era exactamente a isso que me referia. Não à questão do partido claro, que ninguem quer ser enterrado partido, mas à questão do condicionamento das vidas por conceitos frageis, assim revogados por decreto.

Anónimo disse...

A parte má da revogação é que o limbo até é um conceito interessante. há quem lhe chame a metáfora da indefinição. A mim agrada-me a ideia de permanencia na fronteira, ao jeito do amigo Moreira. Vejamos, Bento XVI é que não se lembrou de acabar tambem com o limbo politico, senão o amigo Moreira andaria confuso por estes dias...(era uma graça).

AM disse...

E a que é que o amigo Fortuna chamaria o limbo político, pode-se saber?
Será o estar no inferno sem ser pecador ou estar no céu sem ter feito os sacramentos?

Rejeitar o céu e o inferno não é escolher o limbo.
Da mesma forma que, para os crentes, é preciso vir um papa decretar a evidência para que passe a ser um mito o que nunca foi verdade, o que se irá passar quando um outro (ou o mesmo) papa lhes (vos?) disser que o céu e o inferno não passam também de fantasias?

Espero que então ao menos possam lembrar-se e dizer (pode ser baixinho).
O Moreira bem nos tinha avisado.

:-)
AMNM