"Neste momento em Portugal não há política educativa, há a política do louva-Magalhães."(Paulo Rangel, PSD)
Eu tenho dois Magalhães lá por casa. E antes deles chegarem já existiam dois portáteis e um computador fixo com acesso livre à internet. O computador fixo era, e é, comunitário, para toda a família, os portáteis eram usados amiúde.
A chegada do Magalhães alterou isto tudo. Reduziu a playstation à sua condição de brinquedo menor, pois só servia para divertimento e não para jogar, escrever, ir à net e ainda transportar para ver uns filmes dentro do carro.
Os trabalhos de casa passaram a dividirem-se entre cadernos, fichas e o Magalhães.
Só me dei conta da dimensão do Magalhães, quando almoçava num pequeno restaurante perto de casa e na mesa ao lado estava uma família que tinha escolhido aquele espaço para, mais engalanada que durante a semana, sair no seu almoço dominical. Efectivamente essa família, seguramente trabalhadora, que denotava parcos recursos, trazia a sua criança com o orgulhoso Magalhães impecavelmente tratado.
Entre aquela criança e as minhas crianças houve logo um espaço comum, um meio de partilha de conhecimentos, dos jogos até ao modo de ligar pelo sistema operativo Linux ou Windows.
E eu pensei de imediato que aquela cena sobre as mesas do restaurante parecia um anuncio comercial da J.P Sá Couto e malgrado o embaraço da falta de educação dos computadores partilharem o espaço com as travessas da comida, achei que não era só o estômago que se devia saciar, pois a “cena” merecia reflexão.
Porque com um simples computador portátil que parece uma torradeira, fez-se mais pela igualdade de oportunidades que em muitos anos de politicas de modernização dos sistema de ensino. E percebi que as verdadeiras consequências do Magalhães não agradam à direita – pois não!
Em Portugal, hoje, qualquer criança com mais de seis anos sabe o que é um email, a internet, para que serve, reconhece um teclado, usa-o, brinca com ele, liga-o, desliga-o, carrega-o, transporta-o, configura-o e às vezes estraga-o. Não porque tenha computador, mas porque tem um Magalhães, aquele objecto que todos os outros miúdos tem e tiveram direito a ter. Tenho hoje a certeza que se der às minhas filhas um portátil melhor do que o Magalhães elas vão continuar a preferir o Magalhães. Pôrra, isso deve irritar muitos detractores. Porquê? Porque foi um sucesso.
Moral da história, retirem do vosso currículo: “Conhecimentos de informática na óptica do utilizador”, deixou de ser necessário, porque já está feita na sociedade um marca para o futuro. Uma marca cujos frutos serão colhidos durante décadas.
Alegro-me que a marca deste mandato seja o Magalhães e não o Centro cultural de Belém ou a auto-estrada Porto-Algarve.
É evidente que a alegria nos olhos de todas as crianças que já vi com o Magalhães não é tão mediática como aquele erro ortográfico, ou a venda dos ditos na feira da ladra. Mas é muito mais importante e isso é que importa.