Agora que já está tudo decidido sejamos claros acerca do assunto. Depois de ter assumido que não iria formar um novo partido ou agregar uma outra força politica, Manuel Alegre deixou de ser relevante em termos eleitorais. Para o PS é perfeitamente residual a percentagem de votantes que poderia ser “desviada” pelo afastamento de Alegre. Ninguém, no seu juízo perfeito, deixaria de votar PS pelo facto deste não integrar as listas ao parlamento, nem passará a votar pelo facto dele integrar. Manuel Alegre vale pelo que representa, e não exactamente pelos que representa. Para valer pelos que representa teria que se fazer valer e para isso necessitaria de dar corpo a uma força politica distinta do PS. Ou criava um novo partido, ou integrava outro, ou daria um claríssimo sinal de voto contra o PS, coisa que ele, pelo que é, nunca faria.
José Sócrates sabe isso, mas ainda assim não quis Alegre fora das listas do partido. Como não quis de fora a maioria dos seus adversários políticos internos e procurou até integra-los sob a sua liderança. Veja-se o exemplo de João Soares ou Augusto Santos Silva, ou Alberto Martins, Ana Gomes, Elisa Ferreira cuja candidatura abraça elementos do MIC, e enfim, tantos outros. Não é uma questão de bondade e condescendência do líder, mas sim uma questão de herança genética do Partido Socialista, que Sócrates tem sempre procurado preservar, evitando o sectarismo que caracteriza os restantes partidos em Portugal. Ao contrario dos outros, o PS convive relativamente bem com o pluralismo e a diversidade de opiniões. Não é por acaso que é o partido da liberdade.
Repare-se o que acontece a quem diverge no BE, como Joana Amaral Dias. Ou no CDS/PP com Ribeiro e Castro. E no PSD, que de forma mais subtil não só afasta como queima politicamente e na praça publica os opositores à liderança. Do PCP então nem se fala, tendo todos bem presentes a sangria à que levou a ortodoxia da linha dura.
Por não ser assim que as coisas se passam no PS, é que o partido não quer prescindir de Alegre, porque seria cortar com um laço genético essencial para a marca socialista na sociedade. Neste momento, o PS não precisa de Alegre (eleitoralmente, claro), mas o país precisa. E o PS sabe isso.
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