quarta-feira, maio 06, 2009

Dividir para (também) mandar!

Cavaco Silva está a jogar forte. As permanentes referencias a um governo de bloco central, num cenário pré-eleitoral em que o partido do governo aparece nas sondagens com clara vantagem sobre a oposição, só mostram o esgotamento da direita e que o próprio Presidente tem que vir a terreiro puxar a carroça.
O mais triste, é que se percebe que o faz, não por convicções politicas de fundo, já que aparentemente se revê, pelo menos em parte, na governação de Sócrates, mas por solidariedades pessoais, nomeadamente com MFL. Cavaco já percebeu, e esta semana com as sondagens isso ficou bastante evidente, que Manuela Ferreira Leite não “descola”. Tem falta de jeito, falta de propostas concretas, sustentadas e distintas da linha de orientação do governo, e ainda por cima o seu principal trunfo, uma certa imagem de rigor e seriedade, é permanentemente posto em causa pelo seu próprio percurso, quer passado quer de acção presente. Ora, este é o pior cenário para Cavaco, porque com o PS novamente em maioria o seu mandato corre o risco de se tornar demasiado irrelevante. Mesmo sem maioria, qualquer entendimento pós eleitoral, com CDS ou Bloco (livra!) fugiria por completo da esfera de influencia do Presidente. Não, Cavaco não quer isso, o que quer é dividir para também mandar.
Por isso a insistência e o discurso das “Responsabilidades muito particulares na construção de soluções de governo”.
Cavaco quer puxar a qualquer preço o SEU PSD para a ribalta politica, até porque o SEU PSD não sobreviverá a mais uma derrota eleitoral, sendo obrigado a entregar o terreno a linhas mais, digamos, populistas.
Manuela Ferreira Leite, com a sua já habitual falta de jeito, percebendo a deixa, não se conseguiu orientar logo à primeira. Ainda por cima, quando clarificou, fê-lo mal, recuando e rejeitando o Bloco Central. Apoiada no discurso do 25 de Abril de Cavaco, teve a oportunidade de ouro de se apresentar aos portugueses como opção de governo, ainda que em parceria. Se assim fosse, o ónus da ingovernabilidade ficaria com o PS e a imagem de responsabilidade de MFL passava, a bem da nação, claro. MFL seria então vista como uma alternativa credível, com quem contar, embora nada tivesse feito para o merecer. Ao invés, recuou, mostrando-se indisponível para uma solução de bloco central, desarmando o proprio presidente a quem não resta senão titubear sobre umas “responsabilidades muito particulares na construção de soluções de governo”. de forma hesitante e um pouco insegura.
Ainda bem, porque um entendimento de bloco central pré-eleitoral, no momento que o país atravessa e com o clima de desconfiança que se vive em relação à classe politica seria um verdadeiro perigo. Perigo de descredibilizar definitivamente a nossa democracia, de ser interpretado pelas pessoas como uma conjugação de interesses obscuros (como se percebeu nas reacções à nova lei do financiamento dos partidos, sobra a qual, aliás Cavaco não se pronunciou), como uma institucionalização dos piores vícios da governação. Apesar de tudo, os cidadãos sabem que ainda podem contar com a principal vantagem de um regime democrático, que é tirar os governantes do poder quando já não os querem mais. Apresentar-lhes um pré-entendimento de bloco central é como roubar-lhes esse consagrado direito, já que os outros partidos não constituem propriamente opção de governo.
Para todos os que acreditam na democracia e na vontade soberana do povo através do voto (secreto), a responsabilidade “na construção de soluções de governo” manifesta-se na apresentação ao eleitorado dos seus projectos políticos e no confronto democrático de ideias que devem afirmar-se pelas suas diferenças. É essa a essência da democracia. A redução das hipóteses de escolha, que seria a assunção à priori de um bloco central, é neste momento um ofensa a todos os cidadãos, já bastante martirizados pela conjuntura.
Para além do mais que, este tipo de condicionamento da liberdade de escolha só tem sentido em casos de força maior; guerra, por exemplo. O estado da crise não parece ainda, nem por sombras, justificar tal opção.
O que o povo português menos precisa agora é que lhe reduzam as possibilidades de escolha e lhe apresentem o pacote já pronto e embrulhado, em relação ao qual já se tem mostrado suficientemente desconfiado. O que é preciso é oferecer alternativas credíveis através de programas políticos claros e claramente sufragáveis; isto é que é falar verdade. O problema é que o PSD de Manuela Ferreira Leite não tem nenhuma verdade para oferecer, porque não tem o tal programa politico, limitando-se a contestar as opções de investimento do governo. Não se vislumbra nenhum conjunto de medidas ou programas com uma orientação definida e claramente identificável.
Mas jogar, como tem feito Cavaco, também não é falar verdade, é precisamente não cumprir com a sua “responsabilidade muito particular na construção de soluções de governo”, que no caso do Presidente é servir de arbitro e não de jogador.

2 comentários:

Anónimo disse...

nunca me enganou

Milhafre disse...

O que é mais engraçado é a dificuldade que Manuel Alegre tem em vêr esta óbvia conclusão. para quem foi candidato contra Cavaco, bem que poderia vincar mais este papel subreptício do actual Presidente. Mas é mais fácil insinuar sobre o Freeport, a ministra e outros que tais.
Haveria de mostrar a folha de presenças na AR e qual a sua assiduidade.