quinta-feira, maio 14, 2009

sou um dos Louva-Magalhães


"Neste momento em Portugal não há política educativa, há a política do louva-Magalhães."(Paulo Rangel, PSD)

Eu tenho dois Magalhães lá por casa. E antes deles chegarem já existiam dois portáteis e um computador fixo com acesso livre à internet. O computador fixo era, e é, comunitário, para toda a família, os portáteis eram usados amiúde.

A chegada do Magalhães alterou isto tudo. Reduziu a playstation à sua condição de brinquedo menor, pois só servia para divertimento e não para jogar, escrever, ir à net e ainda transportar para ver uns filmes dentro do carro.

Os trabalhos de casa passaram a dividirem-se entre cadernos, fichas e o Magalhães.


Só me dei conta da dimensão do Magalhães, quando almoçava num pequeno restaurante perto de casa e na mesa ao lado estava uma família que tinha escolhido aquele espaço para, mais engalanada que durante a semana, sair no seu almoço dominical. Efectivamente essa família, seguramente trabalhadora, que denotava parcos recursos, trazia a sua criança com o orgulhoso Magalhães impecavelmente tratado.

Entre aquela criança e as minhas crianças houve logo um espaço comum, um meio de partilha de conhecimentos, dos jogos até ao modo de ligar pelo sistema operativo Linux ou Windows.

E eu pensei de imediato que aquela cena sobre as mesas do restaurante parecia um anuncio comercial da J.P Sá Couto e malgrado o embaraço da falta de educação dos computadores partilharem o espaço com as travessas da comida, achei que não era só o estômago que se devia saciar, pois a “cena” merecia reflexão.


Porque com um simples computador portátil que parece uma torradeira, fez-se mais pela igualdade de oportunidades que em muitos anos de politicas de modernização dos sistema de ensino. E percebi que as verdadeiras consequências do Magalhães não agradam à direita – pois não!

Em Portugal, hoje, qualquer criança com mais de seis anos sabe o que é um email, a internet, para que serve, reconhece um teclado, usa-o, brinca com ele, liga-o, desliga-o, carrega-o, transporta-o, configura-o e às vezes estraga-o. Não porque tenha computador, mas porque tem um Magalhães, aquele objecto que todos os outros miúdos tem e tiveram direito a ter. Tenho hoje a certeza que se der às minhas filhas um portátil melhor do que o Magalhães elas vão continuar a preferir o Magalhães. Pôrra, isso deve irritar muitos detractores. Porquê? Porque foi um sucesso.

Moral da história, retirem do vosso currículo: “Conhecimentos de informática na óptica do utilizador”, deixou de ser necessário, porque já está feita na sociedade um marca para o futuro. Uma marca cujos frutos serão colhidos durante décadas.

Alegro-me que a marca deste mandato seja o Magalhães e não o Centro cultural de Belém ou a auto-estrada Porto-Algarve.

É evidente que a alegria nos olhos de todas as crianças que já vi com o Magalhães não é tão mediática como aquele erro ortográfico, ou a venda dos ditos na feira da ladra. Mas é muito mais importante e isso é que importa.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não fosse o facto de eu ter três crianças e nenhuma delas ter direito ao Magalhães e eu subscrevia inteiramente este texto. 100% ou mais.

Luisa disse...

O magalhães não é um portatil é um brinquedo. ridiculo.

AM disse...

Excelente texto Avelino.
PONTO

Ridículo é o comentário da "Luísa".

Em termos profissionaise dada a (crise?) evolução da carreira ter alargado o meu âmbito de responsabilidades, também para Espanha e África, com as consequentes viagens e horas a de espera a palmilhar aeroportos, optei por trocar o normal, volumoso e pesado "DELL" por um minúsculo Asus Eee.

No gabinete,com um teclado e um monitor, estou muito melhor que antes, pois alio uma maior capacidade de processamento, com o conforto de um teclado e um monitor a sério.

Em viagem já não carrego aquele malão, mas tenho depois que "sofrer" o compromisso de um teclado mais comprimido e de um monitor de apenas 10" (paciência, que ainda assim continuam a ser muitos mais os dias que passo no meu gabinete).

Ou seja, estou satisfeitíssimo com a troca.

Há dias em casa de um amigo cujo filho tem um "Magalhães" olhei com atenção para o tal brinquedo da "Luisa" e procurei a diferença para a minha ferramenta de trabalho:

Tudo o que é essencial é o mesmo.
O meu tem um disco rígido de 160 Gb contra apenas 30 Gb do Magalhães.
O meu tem três portas USB contra apenas duas do Magalhães.
O meu tem uma ficha para ligação a monitor externo, o Magalhães NÃO.

Se alguém os conhecer que chame a atenção à JP Sá Couto para resolverem este último ponto antes da minha filha ter idade para ter direito ao Magalhães.... ;-)

Ridículo, "Luisa" é opinar sobre o que se ignora.

Abraço Avelino.

(Para que não pensem que só digo mal) ;-)

Miguel Castro disse...

=) O "Magalhães" é, de facto, uma aposta ganha deste Governo! Só quem vive refém de uma mentalidade conservadora, incapaz de perceber a importância da informática nos tempos de hoje e nos que avizinham, pode criticar esta medida.

Conceder às gerações futuras a possibilidade de manusear desde cedo um computador portátil e fazer uso das infindáveis potencialidades da internet, fará mais pelo País do que muitos podem imaginar. São iniciativas como esta que diminuem as desigualdades!