sexta-feira, julho 01, 2005

Crónica do rei Ubú

Pedro Baptista


Bem gostaríamos de nos debruçar sobre a situação geral do país. Sobre as frustrações do programa socialista após o encontro dum défice inimaginavelmente superior à previsão mais pessimista. Sobre a responsabilidade do governo de maioria absoluta de enfrentar tal situação com as medidas adequadas em termos de eficácia e de justeza, mas que passam por frustrar as expectativas dos que, ainda há pouco, elegeram a nova maioria parlamentar. Sobre a necessidade absoluta de fazer incidir os custos do emagrecimento necessário, não apenas sobre os trabalhadores e funcionários, mas sobretudo sobre os poderosos a começar pela chamada e autodenominada "classe política" e pelos sectores mais lucrativos da economia portuguesa, em particular a banca. Sócrates ganhou legitimidade para implementar medidas de austeridade a todos, na medida em que começou por cortar no poder político e faz alguns ameaços nos sectores mais poderosos, onde se inclui o fim do sigilo fiscal que pôs a direita furibunda. Manterá e aumentará tal crédito, na medida em que avance sem recuos com as medidas já anunciadas, tal como perderá a credibilidade e legitimidade se a montanha parir um rato, ou seja, pactuar com engenharias políticas destinadas a mudar alguma coisa para manter tudo na mesma. Para lá do fim da pouca-vergonha do regabofe parlamentar e político, do fim dos regimes excepcionalíssimos de aposentações, do término da orgia dos administradores das empresas públicos ou com maioria de capitais públicos, e do ataque aos lóbis económicos privados que vivem à custa do orçamento, há um ponto que aguardamos como decisivo: o emagrecimento dos ministérios, segundo o compromisso, dois por semestre. É que a maioria das sedes dos ministérios, tal como o parlamento, funcionariam (e melhor) com metade do pessoal. A avaliar pelas resistências que se zunem quanto ao fim de alguns dos privilégios parlamentares e políticos, vai ser difícil manter a determinação. Mas ser primeiro-ministro, numa freguesia destas e com as contas como estão, não é fácil. Grande será o mérito de Sócrates se mantiver a linha, e o país, depois de muito estrebuchar em defesa dos seus direitos e legítimos anseios, encontrar no fim do ano resultados de melhorias tanto no crescimento da receita como na baixa da despesa. A personalidade política de Sócrates, com comportamentos melhores ou piores, mantém-se em alta e em aberto. Terá toda a legitimidade política para prosseguir, se mantiver a coragem de cortar em ambos lados de forma equilibrada, e se com isso obtiver resultados visíveis nas contas de fim de ano. Entre nós, a nível do Porto/concelho, passa-se o oposto. A personalidade de Rio está em baixa e fechada. As sondagens mostram que os que o apoiam, e terão as suas razões, não aumentam. O número anti-FCP, e o do rigor e competência, deram o que tinham a dar e saem-lhe pela culatra. Vê-se uma cidade cada vez mais deserta, mais envelhecida, mais pobre, mais degradada, mais esburacada, mais arruinada. Em quatro anos de quase nada, o pouco em que Rio mexeu, deu asneira, sempre mais um buraco. Fartos de uma polémica provocada por Rio, de dia para dia, os portuenses vão percebendo o que foi a sua incompetência ao inventar o prolongamento da saída do túnel de Ceuta sem autorizações, como se qualquer munícipe para fazer mais um andar não precisasse também das autorizações competentes. Mas nos últimos dias a personalidade de Rui Rio mostra uma faceta, que há muito corria pelos "mentideros", onde seja feito o desconto de que a maior parte das vezes a maledicência suplanta a prudência na avaliação. Aquando do "arranjo" do relatório do "amigo do SMAS" a dizer que havia perigo nas condutas de água, que serviu de pretexto para o nosso Esperto avançar com a obra embargada, o país ficou estupefacto ao ver o homem nos ecrãs a falar do perigo de algum vírus contaminar a água da rede pública. Um vírus, Santo Deus! O que não nos poderia acontecer, a nós que constantemente convivemos com "milhões" de mini-alimárias dessas! Mas na terça-feira passada, quando uma explosão derrubou a fachada de um prédio e fez dois mortos em St.ª Catarina, o nosso homem não tem mais: "Temos indicações de especialistas que não há nenhum cilindro nem nenhuma botija de gás capaz de produzir um impacte desta dimensão. Tudo indica que tenha sido causado por um engenho explosivo". Ipsis verbis, incluindo os erros de gramática. Terríveis terroristas escolheram um velho prédio para o destruírem e matarem dois idosos? A ETA? Os islâmicos? O Unabomber ou algum ramal do IRA a quem não terão chegado as notícias da paz? Ou algum senhorio, usando a bomba como método discreto para desalojar os inquilinos? Ou a SRU? Ou a Ministra da Cultura para abanar o prolongamento do túnel de Ceuta? Ou seria a oposição? Santo Deus! Tal comportamento não configurará desequilíbrio de uma mente escanifrada e tétrica, com a mania da perseguição? Um presidente de Câmara do Porto pode dizer estes disparates? É a mesma coisa que um qualquer "boquinhas" fala-barato que no café ou na rua expele a primeira que lhe aparece na cabeça? Ao que chegamos! E de hoje a oito há mais. Com o país a fazer sacrifícios, uma cidade parada pelos cortes orçamentais da Câmara, e com milhões de euros deitados ao lixo pelo Sr. Rio para, em ano de eleições, fazer o número das corridas de quando era pequenino. Não diz quanto nos custa a brincadeira mas se chover vai dizer que são mísseis! O rei Ubú.

Sem comentários: