Pedro Baptista
Será o Bolhão mais uma jogada eleitoral de Rui Rio para arranjar palco a menos de três meses das eleições? Pela utilização da tragédia de Entre-os-Rios como cobertura a uma decisão que ele próprio classifica de "política", dizendo que quer fechar o mercado para evitar um acontecimento semelhante, parece que sim. Por outro lado, se arranja palco, agindo como age, só para se enterrar. Não há um acontecimento de que Rio faça uma leitura serena, em tudo vê fantasmas, para tudo age com exaltação, exagero, fundamentalismo. No Túnel de Ceuta vê a perseguição da ministra do governo do PS, fazendo o mesmo que a do Governo do PSD-PP, em St. Catarina vê bombistas à solta, e no Bolhão, em vez de uma solução que garanta a segurança com obras, mantenha a capacidade de trabalho dos comerciantes e o abastecimento do público, vem com intimações a dar uns poucos dias às pessoas para pegarem nos tarecos e andarem. O que tudo isto esconde é: por um lado o desleixo da Câmara porque 4 anos não são 4 dias e se antes, no tempo da Câmara do PS, o assunto não foi resolvido, ficou um projecto para executar quando houvesse condições financeiras; por outro lado, Rio tomou decisões, uma delas foi não pegar no projecto que lhe deixaram e cuja execução se tornava urgente com as informações de degradação progressiva do edifício, tudo para entregar o mercado à SRU num processo com contornos nebulosos. Ainda mais porque o Dr. Rio, que gosta de se fazer passar pelo campeão da honestidade, mais uma vez se recusa a ter uma actuação transparente, a mostrar o relatório aos vereadores e a dizer o que pretende fazer dali, sabendo-se como se sabe dos inúmeros interesses de abutres imobiliários que pairam à volta do Bolhão. Como continua sem dizer qual o custo das corridas. O custo mesmo, incluindo as obras para fazer a pista, não a tanga. Certamente muito mais do que o necessário para as obras de manutenção do Bolhão. Em qualquer caso, quem é honesto, por que não será transparente? Mas olhando o país, grandes notícias são duas peças nas manchetes e ecrãs. Notícias notícias e, para muita gente, no mínimo, de embasbacar. No mesmo telejornal, a primeira, foi que afinal não houve arrastão nenhum no dia 10 de Junho nas praias afins à capital! Já se sabia, há uns dias, dos resultados da investigação conduzidos por essa grande figura do jornalismo português e da luta pela liberdade de nome Diana Andringa, mas só agora deixaram saltar a bronca para o grande público. A polícia admite que possa ter havido uns poucos concertados a fazerem um assalto, mas tudo o resto, ou seja o arrastão, não passou de centenas de cidadãos a fugirem da intervenção policial que tinha ocorrido por causa de uma rixa ou coisa que o valha. Mas o comandante distrital disse também que, pelo fim da tarde, tentou desmentir os relatos que os media se preparavam para fazer, mas ninguém o quis ouvir. E quando se vêem agora ilustres jornalistas a comentarem sobretudo a actuação da polícia, estão a tentar esconder que o mais interessante será comentar a actuação vergonhosa dos jornalistas, repórteres, editores e directores, que quiseram arranjar uma notícia de manchete a todo o custo e ai de quem lhe quisesse tirar aquele pãozinho da boca. Porque tinham o dever de relatar não de ouvir dizer bocas foleiras, mas ocorrências mini8mamente confirmadas ou com um mínimo de plausibilidade. Só que é este o ambiente dos media em Portugal. É preciso dizê-lo. Se o politicamente correcto é a actuação degradante do carreirista político, o jornalisticamente correcto não é melhor e é a actuação degradante do que troca a busca da verdade consignada no seu dever profissional, que os cidadãos defendem e admiram, pelas festinhas que o dono faz ao rafeiro por bem lhe ser vir os interesses mais inconfessáveis. À custa da poluição do espaço público mediatizado com as mais perigosas toxinas mentais. E nem nos referimos à mais que provável origem fascistóide da tramóia, em data a preceito e com o método tradicional do boato, pois para quem for ver, por exemplo, na Net, os comentário à notícia do "Correio da Manhã", percebe que eles estão lá todos a tentarem fomentar o medo em que se baseia o racismo quando, como dizia há dias alguém, deviam ter medo era deles próprios. A segunda bronca não é melhor: foi que de acordo com duas organizações inglesas independentes, já foram assassinados no Iraque 25 mil civis, metade dos quais, pelo menos, no acto da invasão pelos heróicos anglo-americanos que, como todos se recordam, não foram lá para assaltar o petróleo, mas para livrar o mundo das armas de destruição maciça de Sadam Hussein, armas que, como se sabe, depois de encontradas, passaram a navegar no intestino grosso do Sr. Bush e do Sr. Blair! Até temos, desde há muito, números muito mais aterradores dos assassínios a civis indefesos infligidos durante a invasão, dados provenientes de organizações independentes norte-americanas. Temos nós, como teve toda a gente, sobretudo nos media. E tinha sempre toda a gente desde que com dois dedos de testa e só um dedo de honestidade. Pois foi sempre evidentíssimo, que não poderia ser de outra maneira, em particular com o crime hediondo que foram os bombardeamentos colossais de Bagadade. Como foi possível os media portugueses, alguns dos quais se apresentam como de referência, estribados nalgumas eminências da (quinta-) coluna, terem sido cúmplices, pelo seu silêncio, da mistificação duma actuação criminosa e hedionda como foi a anglo-americana sobre os muitos milhares de civis inocentes iraquianos? E não são os media em geral, não venham com o sistema! São todos em conjunto e cada um individualmente. É uma vergonha que o jornalista, seja estagiário, repórter, editor, fotógrafo, director ou colunista, compactue com este tipo de mistificações, pois ao fazê-lo está a compactuar com o pior que tem em si e a degradar irremediavelmente aquilo que poderia fazer dele um cidadão responsável e um profissional essencial para a democracia: a sua consciência livre.
( in "Comércio do Porto", 22 de Julho 2005)
domingo, julho 24, 2005
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2 comentários:
os brancos tambem fugiram ...
Muito mal esta a nossa policia, mesmo ke tivesse existido arrastão eles só chegavam no fim, é ke antes tem ke reunir um enorme pelotão etc etc.. quantas vezes aguardamos esse dito pelotão para reaver os nosso bens , sabendo de fonte limpa o seu paradeiro num bairro qualquer?
Se ja consultaram esse site da dita jornalista, tambem nele são evidentes os passos dados e os bens adquiridos na fuga
De resto a policia so chegou no fim... mesmo assim enganada , porque de facto nas redondezas não tinham nenhum elemento de ronda que pudesse desmentir os alaridos e motivar ou não tão grande intervenção
Deviam era ter vergonha
tretas! a operação de branqueamento ao que aconteceu na praia, por muito que seja vantajosa ao actual poder, não pega. sejamos sérios!
o que aconteceu em carcavelos pode não ter sido protagonizado por 400 energúmenos; podem ter sido bastante menos, mas que foi algo de grave é insofismável. negar a realidade é o primeiro passo para o abismo. só a cegueira ou o (baixo) interesse político pretenderá negar que os assaltos nos comboios de Sintra e cascais e os acontecimentos da praia são "inventonas". aos que alimentem dúvidas convido-os a fazer uma viagem no comboio de Sintra a partir das 22 horas. o racismo e a pobreza não pode ser desculpa para tudo.
antónio
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