por Pedro Baptista
O governo apresentou um plano de investimentos destinado a contrabalançar os efeitos recessivos do aumento do IVA e a contrariar a depressão resultante do conjunto de medidas restritivas tomadas. Temos pois, pelo menos em teoria, uma barragem à queda da massa tributável que pudesse levar, como aconteceu no passado recente, a uma quebra da receita fiscal no seguimento do aumento da percentagem do IVA. No entanto, na situação do país, os investimentos devem ser analisados pelo periscópio da sua rendabilidade a médio e a curto prazo, num contexto em que esta possa ser avaliada concreta e facilmente.
Estamos numa fase em que para acalentarmos sonhos devemos estar bem acordados e por isso, a concentração dos que dirigem a administração pública e a economia do público e do privado deve incidir sobre a mudança de processos, de estilo e de ritmo, avaliando o que tem sido feito e descortinando vias mais directas, simples e eficazes, rompendo quiçá com alguns mitos instalados a nível do discurso e dos procedimentos que têm alimentado a incrível ineficiência nacional característica da nossa baixa produtividade.
O que implica coragem para a assumpção dos riscos das rupturas, dos investimentos e da criatividade. Mas se aí se vê a competência (e o seu contrário) do sector empresarial, é nessa malha que se deve sentir a administração pública, mostrando não só que é um exemplo como que tem uma política para o país.
É por isso que os investimentos a longo prazo, numa fase como a nossa, não conseguem dar confiança a ninguém, a não ser a certeza de que “vai haver obra” para alimentar os empreiteiros, empregar os emigrantes e melhorar os números da dinâmica económica com consequências desastrosas a prazo.
E sobretudo os investimentos públicos não podem mistificar a realidade nacional com estabelecimentos de médias e de capitações nacionais, quando na verdade alguns têm o efeito aspirador, que só leva ao agravamento do desordenamento e assimetrias territoriais.
É o caso da OTA, um projecto de rendabilidade mais do que duvidosa do ponto de vista estratégico nacional, acrescido pelo facto de aumentar o efeito aspirador sobre o Norte e levar ao definhamento (ainda maior) do aeroporto do Porto, sendo pois mais um factor de prejuízo nacional.
O aeroporto de Lisboa pode ser ampliado, tal como o do Porto (como têm vindo a ser) e o de Faro, e com estes três aeroportos internacionais, muito longe de estarem esgotados, o país não precisa de mais nenhum, muito menos de mais um mamute branco, como têm sido grande parte das nossas obras de “longo prazo”.
No portuense burgo, as tragifarsas são característica da depressão económica, social e política. Já nem há pudor para o disfarce. Os que não são capazes de se rirem do grotesco deles próprios, fazem-nos, ao menos, rir a todos, embora não se possa dizer que seja por pouco dinheiro.
1ª acto: Rui Sá presidente do CA do SMAS pede a demissão à Câmara e, na Câmara, enquanto vereador, vota contra o pedido de demissão do presidente do SMAS. Conclusão, continua (por enquanto e por indicação do camarada Rio) na presidência do SMAS, onde entendia que não devia estar (pela demissão) mas entendeu que devia ficar (pelo voto contra a demissão do outro que era ele). E vêm dizer coisas do Tino de Rãs. Aliás, Rans.
2º acto: Finalmente Rio recua e manda abrir a saída do Carregal do Túnel de Ceuta, tal como estava previsto, autorizado e deveria ter feito há muito, em vez de inventar um prolongamento não autorizado. Mas Rio não vai abdicar do estilo de arruaça que lhe está no sangue governativo. A abertura não terá as características da saída prevista para, quando abrir, procurar que os problemas de trânsito lhe dêem razão. Mas se a abertura fosse como o que devia ser e estava previsto, não haveria qualquer problema e os portuenses há muito que teriam aquele problema resolvido. Mais engraçado é ver o Pacheco Pereira, ideólogo de Rio, noutro jornal, a falar da autoridade do Estado. Quando ninguém como Rio (talvez o Jardim), desde o 25 de Abril, pôs em causa a autoridade legal do Estado!
3º acto: Para epílogo só mesmo as corridas de há 50 anos para nos lembrarmos de como era fazer xi-xi em pequeninos. O modelo que impingiram ao Porto, de impor uma corrida em percursos urbanos e não em pistas, foi rejeitado por toda a Espanha, pela falta de interesse, pelo custo e sobretudo pelos incómodos aos cidadãos. No Mónaco há uma pista, aqui há cidadãos a serem prejudicados. E sobretudo há uma meia pista feita à pressa, de dia, de noite, aos sábados e aos feriados, que vai custar ao erário público para cima de 10 milhões, se não for mesmo muito para cima. Sobre o que, o nosso presidente não diz peva. É o fim da tragifarsa: para um país com a situação em que se encontra, só faltava mesmo pormo-nos a brincar aos carrinhos. E quem precisar de passar, ou de transportes públicos, que vá a pé!
in "Comércio do Porto", 8 de Julho 2005
sexta-feira, julho 08, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Vá lá, um socialista com alguma lucidez. Mas, no entanto, a crítica é ligeira. Se, por acaso, não fossem medidas do PS, a artilharia seria bem mais ruidosa. Esquece-se do "TGV": Lisboa e Sines ficarão ligados à Europa por uma linha que transportará mercadorias-o que na relidade é o que interessa. O Norte não; apesar de ser esta a região mais exportadora. Enfim, o mesmo de sempre. Que nos diz o candidato PS acerca disto? Nada, o candidato PS diz pouco.
Também não resistiu à tentação de dizer mal das corridas de clássicos. Porque sim!...
antónio alves
Enviar um comentário