segunda-feira, agosto 22, 2005

Os comedores de Fogo



Mais uma vez se cumpriu o ritual de verão

Mais uma vez se repetem as mesmas imagens na televisão
Mais uma vez se repetem os mesmos pedidos de declarações de calamidade pública
Mais uma vez se repetem as mesmas acusações quanto a responsabilidades e irresponsabilidades
Mais uma vez se repetem as mesmas receitas estafadas.
O país está a arder......
Como sempre, em Agosto


Entretanto, Agosto, chegará ao fim…
O campeonato da bola já começou.
Os políticos estão quase a regressar de férias
A campanha para as autárquicas vai entrar em “full steam”
A pré-campanha presidencial está quase a arrancar.
Ainda temos o arranque das aulas e o preço dos livros de estudo para animar a “pré-época”….
Com sorte, teremos mais um qualquer crime chocante (se possível com crianças)...
As televisões vão inventar novas novelas e novas imbecilidades para “nos” entreter…

Com mais ou menos ajuda dos bombeiros, os incêndios lá hão-de acabar por se apagar …
E, daqui a quinze dias, ninguém torna a falar dos incêndios, até ao próximo ano…

Ou seja, tudo como dantes neste belo rincão à beira-mar.

Tudo como dantes????

Não
Este ano viu-se algo de diferente.
Bem, não exageremos, vimos nós (e vocês) que "andamos" pelos Blogs.

E o que temos então de novo este ano?
Temos um governo que já não é da coligação PSD/PP e uma “direita profunda” (seja lá o que isso for, mas eles gostam que se diga “liberais”) que descobriu a “blogosfera” e, por via desta, a ilusão de que existe.

E assim, surpreendentemente, temos esses paladinos do mercado e da iniciativa privada a ocupar páginas e páginas de “Blogs” e respectivas caixas de comentários a debater o que “o Estado” (e não os privados) devia ter ou não ter feito para prevenir ou evitar este ano, esta tragédia.
A discutir a forma como “o Estado” (e não os privados) devia ter coordenado o combate aos fogos.
A discutir a forma como “o Estado” (e não os privados) deveria ter negociado o aluguer ou aquisição dos meios ou equipamentos de combate aos fogos, etc.
Enfim, assiste-se, na “blogosfera da direita”, a uma interessantíssima forma de analisar esta peculiar forma portuguesa de celebrar o verão (o incêndio das bouças) para uma catarse de “mal dizer do governo”, mas afinal, defendendo exactamente o contrário daquilo que, no resto do ano, dizem ser essencial garantir.

Entretanto:
Aqueles que realmente, e na prática, criam as condições para o desenvolvimento da sua actividade económica, sem precisarem do aval do Estado, lá vão ateando os incêndios ou pagando a quem o faça por eles.
Aqueles que se poderiam então designar, verdadeiramente, por “arautos do ideal liberal”, lá vão fazendo os seus negócios, milionários ou nem por isso, à volta dos incêndios:
Seja por via da venda ou aluguer dos meios de combate aos incêndios e outros equipamentos.
Seja por via da comercialização da madeira queimada ou seja lá qual for o tipo de interesses que se desenvolvam em torno das áreas e materiais queimados.
Seja por via do controlo das direcções das associações de bombeiros, ligas e corporações e, assim, de todas as negociatas inerentes.
Seja, finalmente, aproveitando aquilo que na forma de subsídios ou outras benesses, o "Estado", no final, venha a disponibilizar para o apoio aos verdadeiramente afectados (assim a modos de “baixas colaterais”) mas que, ano após ano, vamos sabendo que raramente chega ao seu destino.

Qual a conclusão a tirar, se alguma houver:

Os incêndios da floresta em Portugal não são afinal, para todos, uma tragédia.
Serão uma tragédia para as suas vítimas directas, que perdem vidas, ou bens.
Serão uma tragédia para aqueles que, na primeira linha do combate, perdem o seu tempo, a sua saúde e, quantas vezes a sua vida, para ajudar os seus concidadãos.
Serão uma tragédia (mitigada é certo) para todos os contribuintes que, afinal, tem que pagar o elevadíssimo custo, para a sociedade, deste ritual de Agosto.

Para aqueles que, desta actividade, fazem o seu “ganha-pão” (e aqui “pão” deve entender-se no sentido mais lato) não passa disso mesmo, duma fase de um processo económico, de criação de riqueza, da qual, como afinal deve ser, são os “mais aptos” que retiram os maiores benefícios, e a grande massa dos menos competentes que, naturalmente, tem que suportar os custos.

Mas, é assim mesmo o mercado, ou, na sua versão mais “humanista” (coff, coff) ...

É a Vida

António Moreira

18 comentários:

PVM disse...

O simplismo encerra um risco: de quem o pratica se tornar um simplório.

AM disse...

O que, aplicado a este "post", quer dizer (simplificando)...?

AMNM

PVM disse...

É preciso fazer um desenho?

AM disse...

Era bem vindo.

AMNM

Anónimo disse...

Tadinhos!

Os Chineses, governados pelo Partido Comunista, é que dará cabo do V. querido Estado Social....e os Indianos ajudarão, simplesmente porque descobriram que conseguem comer melhor, através de um trabalho mais eficiente!

Como diria alguém, queria o Engenheiro da Universidade Independente, inventar o "Estado Social Liberal"!!!!

AM disse...

"queria o Engenheiro da Universidade Independente, inventar o "Estado Social Liberal"!!!! "

?

AMNM

Teófilo M. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Teófilo M. disse...

Quem perde muito:

Os que morrem nos incêndios!
O País!
Os idosos que perdem tudo o que construíram durante a vida!
O Estado.

Quem perde alguma coisa:

As populações afectadas;
Os amantes da natureza;
Os políticos no poder.

Quem não perde nada:

Os políticos que não estão no poder;
Os que não moram nas zonas afectadas, nem foram afectados nos incêndios.

Os que ganham alguma coisa:

Os incendiários;
Os bombeiros;
A GNR;
A PSP;
A Protecção Civil;
Os repórteres dos incêndios;
Os pilotos dos meios aéreos;
Os proprietários de terrenos a urbanizar e que foram limpos pelo fogo;
Os que agora já tem desculpa para vender a madeira queimada que não lhes deixavam cortar;

Quem ganha muito:

Os proprietários dos meios aéreos;
Os madeireiros;
Os patos-bravos que agora já podem construir no que antes era área florestal protegida;
Os que vão ver aprovados projectos para algumas zonas que ardem inexplicavelmente;
As gasolineiras;
As empresas de reflorestamento;
As indústria do papel.

Pedro Aroso disse...

Caro Teófilo

Não creio que os patos-bravos possam construir no que antes era área florestal protegida, por uma razão muito simples: as áreas edificandi são as que estão definidas nos Planos Directores Municipais. É certo que vivemos num país muito atrasado, mas também não podemos exagerar...

Pedro Aroso

Teófilo M. disse...

Caro Pedro,

infelizmente os PDM alteram-se, e em zonas por onde ando, alí para o lado do Cávado, já assisti a incêndios que foram obra de algum senhor dos milagres, pois permitiram o erigir de mastodontes em área que era protegida anteriormente, claro que com as necessárias explicações de que a evolução sócio-económica do lugar e a evolução da população assim o exigiam.

Olhe que chegam até a lotear terrenos em área de paisagem protegida... felizmente há quem tenha também os olhos bem abertos.

Cumprimentos

Teófilo M.

AM disse...

Caros Teófilo e Pedro

Obrigado por contribuirem, de forma construtiva para esta discussão simples :-)

De qualquer forma está assim estabelecido que, além de haver quem perca algo, e alguns muito, há também quem nada perca, quem algo ganhe e quem ganhe muito.

Parece-me assim extremamente simples concluir que não faz qualquer sentido que a prevenção e o combate aos incêndios seja entregue a quem, afinal, tem mais a ganhar com a sua ocorrência.

Uma simples análise como esta que o Teófilo avançou (e naturalmente discutível) permitiu, em minutos dar pistas quanto ao que deve ser feito nesta área.

Simplificando novamente:
Aquilo que é evidente e qualquer "simplório" como eu, consegue discernir em alguns minutos, não é evidente para os decisores políticos dos últimos 31 anos ???

Ou haverá outros interesses que, afinal, se sobrepoem ao interesse público?

O complicar encerra muitos riscos, deixar eternizar os problemas, por sempre haver desculpas para não os resolver.

E ainda aguardo os desenhos....

AMNM

Pedro Aroso disse...

Caro António Moreira

Acabo de ler na Baixa do Porto um artigo muito interessante, da autoria do Valério Neto Filipe e que passo a reproduzir:

"Em 1999 comecei a trabalhar na área ligada à gestão de património imobiliário.
Nessa altura, ainda mantinha algumas ligações ao dirigismo académico, e fui contactado por alguns amigos, ligados à F.A.P., que procuravam um edifício para restaurar na Baixa.
O objectivo era colocar a funcionar, 24 horas por dia, um edifício de apoio aos estudantes universitários: teria um centro de cópias, uma zona de estudo, zona de acesso à Internet e uma zona de lazer (bar com pequenas refeições)...
A Câmara Municipal, na altura PS, iria dar um forte apoio ao projecto, uma vez que se considerava que a abertura de tal espaço daria "uma nova dinamização à Baixa, contribuindo, assim, para a sua revitalização" (maldito chavão).
Ainda fomos ver uns edifícios na Rua do Almada.
Lembro-me que esse projecto tinha um nome: Pólo Zero".

Agora leia esta notícia publicada no JN: http://jn.sapo.pt/2005/08/23/grande_porto/polo_zero_para_chamar_estudantes_a_b.html

Tirem as vossas conclusões.
Pedro Aroso

AM disse...

Caro P.Aroso

Este "post" é sobre os incêndios e não sobre as propostas do PS Porto para a autarquia.

Mas se quer fazê-lo aqui, tudo bem...

Se quiser mandar um e-mail com a sua opinião sobre as propostas ou os programas, tudo bem também que eu publico (quando os SO (sedentos originais) vierem de férias se calhar ralham comigo, mas enfim)

Dado não ser militante nem simpatizante do PS, nem conhecer ainda o programa de qualquer das candidaturas para a cidade, não me sinto naturalmente à vontade para escrever sobre as mesmas.

Já tinha lida a notícia do jornal sobre a proposta do Assis para o "polo zero", parece-me (como leigo) uma boa ideia.
A si não? porquê?

Também vi que na Baixa está um "post" a comentar o facto de essa ideia já ter sido apresentada em tempos, pela FAP a um outro executivo do PS que terá manifestado abertura para apoiar essa ideia, não tendo a mesma, no entanto, chegado a ser implementada em tempo útil (leia-se antes do Rui Rio).

Como, durante a vereação de Rui Rio, a FAP não implementou o tal "Polo Zero", depreendo que terá sido porque Rui Rio achava uma má ideia, ou então, sei lá, não se lembraram?

Mas o P.Aroso, acha boa ou má ideia ? porque?

Como o Pedro Aroso muito bem sabe (pois esteve lá e até escreveu na Baixa sobre isso) o F. Assis andou a auscultar as pessoas do Porto à "cata" de IDEIAS para a cidade, nomeadamente quanto a urbanismo....
Acha mal? porquê?


Mas, se acha boa ideia o tal "polo zero", acha que o Assis devia ou não devia avançar com ela? Porquê? por não ser "original"?

Então acha que devemos privar a cidade de bons projectos por não serem "nossa ideia"?

Então acha que se o Rui Rio (ou alguém da sua equipa) tivessem alguma ideia aproveitável (eu sei que é mais do que improvável) caso o Assis ganhasse as eleições não devia implementar esse projecto por ter sido ideia do R.Rio?

Como eu ainda não percebi onde é que o Pedro Aroso queria chegar, talvez possa explicar um bocadinho melhor, OK?

Obrigado
AMNM

Pedro Aroso disse...

Caro António Moreira

Eu não queria chegar a lado nenhum... Apenas sugerir que tirassem as vossas conclusões, como de resto referi no último parágrafo. Mas já agora, se me permite, gostava de reproduzir uma frase do Dr. Francisco Assis citada no referido artigo, que me deixou bastante intrigado:
"O candidato socialista aproveitou ainda para atacar o seu adversário directo (Rui Rio), acusando-o de "não ter apresentado uma única ideia relevante".".
Se calhar eu ando distraído com este drama dos incêndios e ainda não me apercebi que a campanha eleitoral já começou oficialmente. Se assim for, o Dr. Assis tem toda a razão... O Dr. Rui Rio já deveria ter apresentado uma ideia relevante (mesmo que não fosse da sua autoria)!

AM disse...

Ó Pedro Aroso

Tenha paciência mas já agora gostava da sua opinião
(já que vc é arquitecto e eu não, ajude-me a tirar conclusões)

Afinal a tal ideia do "polo zero" é boa , é só razoável ou é uma idiotice?

É que eu quero lá saber de quem é a ideia e se a campanha começou ou não, ou só se tem ideias quando há campanhas?

Se o que o Assis queria dizer era que o Rio não apresentou uma única ideia relevante, ao longo dos últimos quatro anos, aí estou de acordo sim senhor.

Mas se calhar ainda bem, pois as poucas e pouco relevantes que se viram deram a m***a que deram...

AMNM

Pedro Aroso disse...

A ideia do "pólo zero" é muito boa.

Pedro Aroso

AM disse...

Obrigado

AMNM

Anónimo disse...

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