sexta-feira, agosto 05, 2005

Sabem como se come um elefante?

É fácil, um bocadinho de cada vez.

Também funciona com dois, mesmo se brancos…

Vamos então navegar em contra corrente, pegando num assunto que já foi aqui aflorado, mas agora para o analisar segundo uma perspectiva que vai ao arrepio de algumas posições já aqui expressas e que, nesta altura, são quase universalmente consensuais na “blogosfera”.

Trata-se então da OTA e do TGV, por tantos já tratados como se fossem as grandes obras do regime ou como se o caixão que alguns já quase encomendaram para este desgraçado país estivesse apenas à espera que lhe fossem pregados estes dois últimos pregos.

É claro que não surpreende ver todos os opositores ao actual governo a bater na mesma tecla, afinal nesta santa terrinha, entende-se que fazer oposição é só isso, estar contra tudo o que faça o poder, nem que se tenha que, alternadamente, defender tudo e o seu contrário.

Nem me surpreende ver esta unanimidade na “blogosfera”, enxameada de opinadores da direita ressabiada (embora alguns gostem de se auto classificar como “liberais”), a qual encontrou nos jornalistas com o “rabo mais pesado” uma conveniente caixa de precursão, numa relação promíscua que tão bem serve as duas partes.

Agora o que me surpreende é ver pessoas cuja opinião eu tanto estimo, aqui e noutros espaços, alinhar pelo mesmo coro de críticas, quando me parece que a análise não será tão directa.

Primeiro que tudo, penso que a análise a estes projectos não deve ser reduzida a uma simples querela partidária nem, muito menos, a uma batalha da, eterna, “guerra” Norte-Sul.

Seguidamente, devemos reconhecer que, quer os tais pretensos “liberais” queiram, quer não, a nossa economia é um pesado comboio que só se move quando puxada pela mesma locomotiva de sempre, o INVESTIMENTO PUBLICO.

Infelizmente, tirando poucas excepções, não existem, em Portugal, empresários dignos desse nome, pelo que, independentemente de quem governa num dado momento ser mais ou menos de direita, mais ou menos “liberal” a receita para, ao menos, manter os portugueses entretidos e haver uma ilusão de que algo a nossa sociedade produz tem sido e vai continuar a ser o INVESTIMENTO PUBLICO.

Ora são as Auto-Estradas, ora são as Capitais Europeias da Cultura, ora são as Expo98, ora são os Euro2004, ora é o Metro do Porto, o que é um facto é que, desde a nossa entrada na então CEE, essas tem sido as locomotivas da nossa economia.

É evidente que sempre se foi conseguindo atrair algum bom investimento externo, como o caso da Auto-Europa (e prometo não falar, por enquanto, daquela famosa plantação de morangos com que íamos invadir a Europa….) mas tal nunca foi suficiente, pelo que o fundamental foi sempre a execução de GRANDES OBRAS PÙBLICAS.

É evidente que podemos e devemos discutir prioridades.
Devemos discutir porque se fazem estas e não aquelas, porque não se constroem então Hospitais, Escolas, sei lá, tanto do que ainda nos falta para sairmos deste vergonhoso estádio de sub-desenvolvimento.

Mas então, agora deu-lhes para a OTA e o TGV, pelo que devemos então tentar fazer uma análise a estes dois investimentos começando já por evitar um primeiro erro:

Enfiar os dois no mesmo saco.

Depois, então, deve-se evitar um segundo erro:

Comparar a valia desses investimentos com outros anteriores.
(nomeadamente se estivermos tentados a pensar no tal “investimento” feito em 10 Estádios de Futebol.)
Os erros anteriores tem que deixar de ser a eterna justificação, para a sua repetição, pelos mesmos ou por outros responsáveis.

Continua…

AMNM

10 comentários:

PVM disse...

E, contudo, o famoso PIIP está a contar com quase 50% de fundos privados. Em que ficamos: afinal é o INVESTIMENTO PÚBLICO a panaceia?
A cartilha Keynesiana, essa, só para os políticos alienados e economistas demodés é que continua viva. Investimento público é que faz bem à economia, mesmo que seja irracional, como exemplos sem fim.
Paulo Vila Maior

AM disse...

Caro Paulo

Não sei se o Investimento Público é a panaceia, nem sequer o escrevi, se ler com um pouco mais de atenção.
Limitei-me a constatar (lamentando) que a nossa economia apenas funciona se houver Investimento Público, caso contrário estagana.
Constatar a realidade não é igual a defendê-la.
(pode ter a certeza que sou contra o envelhecimento dos humanos).
Quanto a concluir que estes Investimentos (OTA e TGV) são irracionais, ainda não cheguei lá.
Eu nem sei se um deles (OTA) é (fundamentalmente) Investimento Público.

Obrigado
AMNM

Anónimo disse...

Caro Sr. António Moreira,

Pedindo desculpa do meu comentário não estar relacionando com o presente post, aceitando que o elimine se assim o desejar, pretendo apenas responder ao seu pedido de confirmação a um comentário que efectuei noutro blog.

Efectivamente, o presidente da Câmara Municipal do Porto é o vice-presidente da mesa da assembleia-geral da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, encontrando-se actualmente no exercício do terceiro mandato de 3 anos (cada).

Tem uma remuneração mensal de cerca de €600 (seiscentos euros) vezes 14 (quatorze) meses, pagando ainda a CTOC a segurança social e outras despesas que Rui Rio apresente.

No desempenho destas funções, Rui Rio deveria estar presente às duas assembleias anuais, o que geralmente não acontece, limitando-se a comparecer de 3 em 3 sessões, para evitar a perda do cargo e correspondentes regalias.

Às sessões que comparece limita-se a exibir o seu sorriso de "Mona Lisa" e a distribuir alguns cumprimentos, não lhe sendo conhecida qualquer intervenção sobre tal profissão.

Se subsistirem algumas dúvidas avise.

Com os meus cumprimentos,

turista

AM disse...

Muito obrigado pela informação.
Naturalmente não irei extrair daqui qualquer conclusão ou juízo.
Cada um que faça os seus.

Mais uma vez muito obrigado

AMNM

Anónimo disse...

Tem toda a razão: cada um que faça o juízo ou tire a conclusão que quiser.

No entanto, para que tal aconteça, este tipo de situações deve ser divulgado o mais amplamente possível para que chegue ao conhecimento de todos.

t

Anónimo disse...

Caro A. Moreira

Há uns posts atrás tentei fazer aquilo que o meu amigo conseguiu aqui muito melhor, onde diz, primeiro erro, enfiar os dois no mesmo saco. É isso mesmo. É por aqui que deve começar.

Abraço

Anónimo disse...

lamentavelmente Vc andam todos à toa

Portugal esta a investir e a precaver o futuro

kando a agua a acabar na Europa, Portugal poderá vende-la a preço de Ouro dado o investimento ke foi o Alkeva, e isto é so um exemplo, somos em kase todas as obras publicas os maiores da Europa.

Ser Portugues é ter a real noção do investimento, é construir casas com 10 lugares de garagem e uma piscina , não para a familia, mas para valer mais kando for vendida...

Anónimo disse...

Caro AMNM,
1.Em 1990 o meu professor de Desenvolvimento e Crescimento Económico, simpatizante do PCP, dizia: «não é com auto-estradas que se desenvolve uma economia». Fala quem sabe.

2. Desde que foi anunciado o PIIP o principal financiador do PS, a Mota-Engil não para de subir em bolsa. O BES de Manuel Pinho é o principal dono dos terrenos da OTA. Você é OTArio ou faz-se ?

3. Pior do do lisboetas a sugarem o desenvolvimento do resto do país é ter morcões do Porto a dizer que não passa nada.

AM disse...

Hehe

E eu ainda nem comecei a dizer o que penso da OTA (nem do TGV) e já estou a levar porrada :-D

Vai ser giro quando eu disser....

(PS - não fazia ideia que em 1990 ainda havia simpatizantes do PCP)

AMNM

Anónimo disse...

1. Já nem a esquerda intelectual é simpatizante do keynesianismo e eis que os treinadores de bancada do futebol e da política «acham que o caminho é o investimento público». Somos governados por parvos.

2.É muito mau sinal quando uma pessoa ou um país necessitam de de se valorizar com sinais exteriores de riqueza. É sinal que são pobres ou complexados. Obviamente que para os minoritários fornecedores de sinais de exteriores de riqueza, não passa nada.