segunda-feira, agosto 08, 2005

Se calhar…., ou o cheiro das bolachas

Numa rua estreita no centro da cidade, sobrepondo-se aos fumos e ao cheiro dos combustíveis, queimados pelos transportes, públicos e privados, que se comprimiam tentando chegar à estreita ponte, cheirava-se, durante todo o dia, um delicioso aroma a bolachas, a bolachas fresquinhas, acabadas de fazer…

Alguém se lembra?

Hoje, por força do Metro, já não se faz, por essa rua estreita, o trânsito a caminho da outra margem, mas também o tal cheiro a bolachas, permanece apenas na memória dos mais antigos, pois a fábrica de bolachas que lá existiu por tantos anos, há muito que mudou de poiso ….

Não me consigo lembrar do nome da fábrica, ou da marca das bolachas (decerto alguns com melhor memória a identifiquem de imediato), por isso não posso afirmar com certeza que o que segue é realidade ou, apenas, um faz de conta.

Mas, mesmo assim, apetece-me fazer o exercício de tentar adivinhar o que se terá passado:

Então, se calhar….

Se calhar um dia, os proprietários da tal fábrica de bolachas, olharam à sua volta, olharam para os livros, atenderam aos lamentos de clientes e fornecedores, fartaram-se das pressões, vistorias e multas e entenderam, finalmente, que para fabricar bolachas não era necessário, nem sequer acrescentava valor, estar localizado no centro do Porto.
Se calhar, os proprietários da tal fábrica de bolachas, entenderam enfim que as vantagens que decorriam do facto de a fábrica se situar no centro da cidade tinham, há muito, sido suplantadas pelas desvantagens decorrentes dessa mesma localização.
Se calhar, os proprietários da tal fábrica de bolachas, ouviram a geração mais nova e verificaram que o valor da localização tão central na cidade, da sua fábrica de bolachas, era, afinal, muito superior ao valor necessário para adquirir um terreno adequado, numa localização mais adequada e devidamente infra-estruturada para a actividade industrial e aí montar uma nova fábrica de bolachas equipada com os mais modernos equipamentos e dotada de facilidades logísticas que iriam tornar a vida mais fácil e mais rentável quer a eles quer aos seus fornecedores.
Se calhar então, os proprietários da tal fábrica de bolachas, tomaram a decisão mais adequada do ponto de vista económico.
Se calhar, após muitos estudos e analisadas as diversas opções possíveis, adquiriram, por um preço adequado, um excelente terreno, numa zona suburbana com as características e as infra-estruturas mais adequadas ao seu tipo de actividade, e onde, ainda por cima, verificaram poder tirar partido de atraentes incentivos a este tipo de investimentos.
Se calhar então, construíram uma nova fábrica de bolachas com as características e os equipamentos optimizados para as realidades actuais e para o que se previa seriam as tendências futuras deste sector de actividade.
Se calhar de seguida transferiram a actividade das anteriores para as actuais instalações.
Se calhar, finalmente, venderam as antigas instalações a um promotor imobiliário, ou promoveram, eles próprios o seu aproveitamento imobiliário (de acordo com o que um qualquer PDM em vigor na altura, estabelecia para a localização da antiga fábrica).
Se calhar toda esta operação foi planeada e executada com um eficaz enquadramento financeiro e económico de forma a que, no final, a riqueza dos proprietários da tal fábrica de bolachas era muito superior à anterior.
Se calhar a qualidade das bolachas é agora muito superior, dada a melhoria das instalações e equipamentos destinados ao seu fabrico.
Se calhar agora a rendibilidade do negócio das bolachas é muito superior dada a melhoria na qualidade do produto, mas também nos meios logísticos e outros fundamentais ao desenvolvimento do negócio.
Se calhar agora a vida na zona da cidade onde se situava a antiga fábrica é muito mais agradável para todos dado, em vez de uma unidade industrial, ali se verificar agora o tipo de ocupação que os urbanistas entenderam que era mais adequado e que, fruto desta “deslocalização” foi possível implementar.
Mas afinal, isto vem a que propósito?
Sei lá, será talvez por ser Agosto, será talvez por me parecer estranho todos terem a mesma opinião ao mesmo tempo e assim nem valer a pena as coisas serem discutidas, ou será talvez por me parecer que é mais fácil a alguns chamar logo OTÁrios a outros que discutir seriamente os assuntos.
Sei lá...
António Moreira

6 comentários:

Teófilo M. disse...

A rua seria a de Entreparedes, a fábrica creio que era da Paupério, mas não tenho a certeza.

Dizem as más-línguas que foi precisamente esse cheiro que os obrigou a fechar e/ou mudar de local, pois muitas vezes, as pessoas que por ali trabalhavam e estudavam ao fim de algumas horas de cheiro já não aguentavam mais...

AM disse...

Obrigado pela dica.
A rua era a de Entreparedes claro :-)

AMNM

Anónimo disse...

perguntas OTÁrias: justifica-se um mega aeroporto para competir com Madrid? Teremos a mínima hipótese de competir com Madrid neste campo? Não seria melhor aplicar o dinheiro naquilo em que podemos mesmo competir com Madrid? Mesmo no que respeita a aeroportos, a mim parece-me que o único aeroporto que, com a política e o investimento certos, pode ter consideráveis hipóteses de ganhar mercado em Espanha (Galiza) é o de Pedras Rubras. Não seria essa uma aposta mais racional? Norte de Portugal e Galiza em conjunto são 7 milhões de pessoas. Tal concentração só tem paralelo, precisamente, na região de Madrid. Um aeroporto na Ota vai ganhar mercado em que região de Espanha. Não vale a pena responderem-me que o aeroporto não é para ganhar mercado em Espanha mas sim na Europa. Esse é o mesmo mercado do de Madrid. E Madrid é o centro financeiro da peninsula e uma das principais cidades da Europa. A Espanha dentro de pouco tempo é um dos 3 mais poderosos da Europa. A nossa economia ainda está a meio século de distância de tal desiderato. Chegaremos lá alguma vez? Não creio. Era melhor que o governo nos explicasse isto tudo bem explicadinho.

AM disse...

Caro António

Se quer mesmo discutir a questão a que se convencionou designar por OTA, vou talvez abrir outro "post".

AMNM

Anónimo disse...

A Fábrica de Bolachas Imperial. Fechou porque o proprietário faleceu, cheguei a conhecer um dos herdeiros, mas mais não sei. E, não era da Paupério, não.
SE CALHAR... não quis continuar...

Anónimo disse...

A Fábrica Paupério ainda existe em Valongo, junto à igreja. O cheirinho a bolachas acontece todos os dias e acreditem que não dá para enjoar...