Assim o caso da Ota segue a lógica neo-liberal de uma economia que se quer competitiva no curto prazo. Há mais aviões, mais viagens – logo maior aeroporto. Melhor se o estado fizer uns contratos programa e acções de convergência com financiadoras, bancos, construtoras, etc.
O emagrecimento da função pública, o plano de contenção orçamental vendem-se como resultado da inevitável economia aberta e assumem finalmente que o estado é pesado demais. Evidentemente que está aqui estampada a critica ao pós 25 de Abril - digo eu!
Ora bem, de acordo, isto resultou de duas décadas em que o sonho de qualquer melro é trabalhar para o estado e abrir uma empresa por fora. Agora que se fechou a torneira dos quadros na função pública já ninguém fala de cartões, boys e factor C. Mas se puxarem pela memória observam que essa coisa do cartão começou por ser o denominado “cartão laranja” e rebentou nas mãos do mudo Cavaco Silva. Foi também por aí que começaram os quadros comunitários, com dinheiro europeu para uma estrutural mudança em Portugal. Muito foi desperdiçado, mas também muito foi modernizado e chegamos a convergir com a média europeia. Fizemo-lo tão bem que conseguimos caber dentro da moeda Euro.
Foi, portanto, nas “vacas gordas” que ninguém se preocupava demasiado com o papel do estado, fosse mais ou menos – se fosse mais, melhor, desde que fizesse o movimento aos fundos e ao constante investimento. Daí a uma política aberta de consumo com aberrações como uma horrorosa comparticipação nos empréstimos dos jovens (divertidos e despreocupados a comprar apartamentos de luxo) que explodiu um mercado do imobiliário muito depressa, uma fraca posição fiscal e a nenhuma consertação social, pois como se está a ver os acordos de reformas assim, assado, sistemas de saúde para militares desta maneira, motoristas da carris daquela, e Toninhos como o Zé, ficam-se pela caixa de previdencia.
Este estado, errático, confuso, gordo, mal organizado, não é consequência da esquerda, mas sim do bloco central que tem vergonha de assumir-se retentora dos avanços neo-liberais. Da esquerda que tarda em falar de equilíbrios sociais, económicos e culturais (vide as consequências das ultimas privatizações), e da social-democracia que rompeu com a lógica do estado gestor, para ir a correr transformar o estado nessa coisa hiobrida que nem manda muito nem desmanda. Assim como o grupo da Telecom a comandar os media, ou a confusão na justiça, o a bandalheira jurídica à volta das autarquias – onde a gestão danosa pode ser a gestão popular desde que seja encontrada a razão da cabala.
Por isso dizia que os conservadores sempre ganharam a guerra surda sobre as vanguardas, por isso a política (essencialmente social-democrata na Europa ocidental) está descredibilizada e instituições como a Igreja, por pior que procedam, seguem como pilares da comunidade. E porque será?
Creio que a questão é que, a social democracia subtitui o socialismo, e a esquerda deixou de ser também “doutrinal” para passar a ser o receptáculo ideal da economia de mercado. A mesma economia aberta que justifica os interesses americanos no médio oriente e os disfarce com a defesa dos direitos humanos. É que esta cultura americana de policiar o mundo só esclarece que nos faltam referências, tipologias sociais e muita pedagogia.
Por isso me revolto com a alienação que tem havido das pessoas perante os partidos políticos. Ninguém se quer misturar com “os políticos” por duas razões, a saber:
- Não precisam de definir (inclusive a eles próprios) o que pensam das ideologias, do País, do Mundo, da sociedade, das políticas. Assim podem votar em branco, ou neste e naquele conforme o discurso, o projecto, a cor do cabelo e o signo que pertencem, glosando com isso – porque até é chique.
- Não querem incomodar-se e verem-se envolvidos nas lógicas disputas que a participação pública implica. É mais fácil assinar uma petição independente, ou criticar no correio do leitor – não compromete, e assim tranquilos podemos sempre criticar o estado e o que ele representa. E ser militante do que quer que seja é démodé, porque sim, porque o verdadeiro poder é conhecer pessoalmente os personagens, mas não depender deles – como aqueles eternos independentes que pertencem a todas as comissões de honra, ora do PS, ora do PSD.
Mas isto está evidentemente errado. Não há aqui caminho para meias tintas, como o Giddens fazia com o socialismo de 3ª via.
O estado seguro, material, deu lugar ao estado só gestor de oportunidades, como se por exemplo em Portugal o que interessava da nossa economia não tivesse sido entretanto absorvido pelos grupos espanhóis e franceses.
E agora, como o estado continua a gastar o mesmo, mas o dinheiro vale menos. Como há mais estado social e população envelhecida. Como a classe operária vai dando lugar a uma classe intermédia de qualificação mais próxima de actividades terciárias – logo o estado tem que desembrulhar-se pois o emprego deixou de se fazer em mão-de-obra barata, onde a liberalização de mercado aprovada na OCDE explora (para já) os países de 3ª mundo e ataca as economias sólidas e sócias democratas da velha Europa.
Por isso os neo-liberais gostavam que isto fosse do tipo – Democrata / Republicano – como se eu não possa ser as duas coisas, ou como se pudesse ser republicano sem ser profundamente democrata. E como se uma coisa fosse a direita e outra a esquerda.
Por exemplo, o Bloco está mais à direita que eu em muitas questões – desde logo no aborto que tratam como se fosse uma coisa política e não um dever profundo com implicações sociais muito para além da legalidade ou liberdade.
Por fim, neste contexto ser conservador é ter medo de reflectir, é achar que a lógica de proximidade é mais legítima, que nem vale a pena pensar nas transformações sociais a ocorrer debaixo do nosso nariz (como os blogues), onde tudo se diz e pouco fica para se dizer. Onde um debate presidencial se faz por estigmas – idade, carreira, perfil, imagem, etc. E não pela capacidade de discutir este País, sem pruridos, na sua relação com Espanha, com as suas regiões, que cada vez menos o vão sendo, com o Atlântico, com o Brasil, com a língua materna (que cada vez é menos importante), com a cultura, a história e já agora a economia.
Afinal digam lá ao estado em que é que ele deve apostar – na tecnologia, ciência, conhecimento e turismo. OK, então deixem lá fechar as têxteis, sapateiras, montagens de carruagens e automóveis, construtoras e coisas parecidas.
Ou então o estado aposta nas infra-estruturas e ali vai TGV, Ota, mais auto-estradas, edifícios públicos, emigrantes clandestinos, Know-how estrangeiro (especialmente espanhol) e borrifa-se o choque tecnológico.
E … se calhar continua! Porque não tenho ainda as respostas.
P.s. Desculpem lá o jeito brejeiro, mas isto não tinha vontade de ser um texto cientifico ou a presunção de ser sequer um texto – é simplesmente uma opinião!
O emagrecimento da função pública, o plano de contenção orçamental vendem-se como resultado da inevitável economia aberta e assumem finalmente que o estado é pesado demais. Evidentemente que está aqui estampada a critica ao pós 25 de Abril - digo eu!
Ora bem, de acordo, isto resultou de duas décadas em que o sonho de qualquer melro é trabalhar para o estado e abrir uma empresa por fora. Agora que se fechou a torneira dos quadros na função pública já ninguém fala de cartões, boys e factor C. Mas se puxarem pela memória observam que essa coisa do cartão começou por ser o denominado “cartão laranja” e rebentou nas mãos do mudo Cavaco Silva. Foi também por aí que começaram os quadros comunitários, com dinheiro europeu para uma estrutural mudança em Portugal. Muito foi desperdiçado, mas também muito foi modernizado e chegamos a convergir com a média europeia. Fizemo-lo tão bem que conseguimos caber dentro da moeda Euro.
Foi, portanto, nas “vacas gordas” que ninguém se preocupava demasiado com o papel do estado, fosse mais ou menos – se fosse mais, melhor, desde que fizesse o movimento aos fundos e ao constante investimento. Daí a uma política aberta de consumo com aberrações como uma horrorosa comparticipação nos empréstimos dos jovens (divertidos e despreocupados a comprar apartamentos de luxo) que explodiu um mercado do imobiliário muito depressa, uma fraca posição fiscal e a nenhuma consertação social, pois como se está a ver os acordos de reformas assim, assado, sistemas de saúde para militares desta maneira, motoristas da carris daquela, e Toninhos como o Zé, ficam-se pela caixa de previdencia.
Este estado, errático, confuso, gordo, mal organizado, não é consequência da esquerda, mas sim do bloco central que tem vergonha de assumir-se retentora dos avanços neo-liberais. Da esquerda que tarda em falar de equilíbrios sociais, económicos e culturais (vide as consequências das ultimas privatizações), e da social-democracia que rompeu com a lógica do estado gestor, para ir a correr transformar o estado nessa coisa hiobrida que nem manda muito nem desmanda. Assim como o grupo da Telecom a comandar os media, ou a confusão na justiça, o a bandalheira jurídica à volta das autarquias – onde a gestão danosa pode ser a gestão popular desde que seja encontrada a razão da cabala.
Por isso dizia que os conservadores sempre ganharam a guerra surda sobre as vanguardas, por isso a política (essencialmente social-democrata na Europa ocidental) está descredibilizada e instituições como a Igreja, por pior que procedam, seguem como pilares da comunidade. E porque será?
Creio que a questão é que, a social democracia subtitui o socialismo, e a esquerda deixou de ser também “doutrinal” para passar a ser o receptáculo ideal da economia de mercado. A mesma economia aberta que justifica os interesses americanos no médio oriente e os disfarce com a defesa dos direitos humanos. É que esta cultura americana de policiar o mundo só esclarece que nos faltam referências, tipologias sociais e muita pedagogia.
Por isso me revolto com a alienação que tem havido das pessoas perante os partidos políticos. Ninguém se quer misturar com “os políticos” por duas razões, a saber:
- Não precisam de definir (inclusive a eles próprios) o que pensam das ideologias, do País, do Mundo, da sociedade, das políticas. Assim podem votar em branco, ou neste e naquele conforme o discurso, o projecto, a cor do cabelo e o signo que pertencem, glosando com isso – porque até é chique.
- Não querem incomodar-se e verem-se envolvidos nas lógicas disputas que a participação pública implica. É mais fácil assinar uma petição independente, ou criticar no correio do leitor – não compromete, e assim tranquilos podemos sempre criticar o estado e o que ele representa. E ser militante do que quer que seja é démodé, porque sim, porque o verdadeiro poder é conhecer pessoalmente os personagens, mas não depender deles – como aqueles eternos independentes que pertencem a todas as comissões de honra, ora do PS, ora do PSD.
Mas isto está evidentemente errado. Não há aqui caminho para meias tintas, como o Giddens fazia com o socialismo de 3ª via.
O estado seguro, material, deu lugar ao estado só gestor de oportunidades, como se por exemplo em Portugal o que interessava da nossa economia não tivesse sido entretanto absorvido pelos grupos espanhóis e franceses.
E agora, como o estado continua a gastar o mesmo, mas o dinheiro vale menos. Como há mais estado social e população envelhecida. Como a classe operária vai dando lugar a uma classe intermédia de qualificação mais próxima de actividades terciárias – logo o estado tem que desembrulhar-se pois o emprego deixou de se fazer em mão-de-obra barata, onde a liberalização de mercado aprovada na OCDE explora (para já) os países de 3ª mundo e ataca as economias sólidas e sócias democratas da velha Europa.
Por isso os neo-liberais gostavam que isto fosse do tipo – Democrata / Republicano – como se eu não possa ser as duas coisas, ou como se pudesse ser republicano sem ser profundamente democrata. E como se uma coisa fosse a direita e outra a esquerda.
Por exemplo, o Bloco está mais à direita que eu em muitas questões – desde logo no aborto que tratam como se fosse uma coisa política e não um dever profundo com implicações sociais muito para além da legalidade ou liberdade.
Por fim, neste contexto ser conservador é ter medo de reflectir, é achar que a lógica de proximidade é mais legítima, que nem vale a pena pensar nas transformações sociais a ocorrer debaixo do nosso nariz (como os blogues), onde tudo se diz e pouco fica para se dizer. Onde um debate presidencial se faz por estigmas – idade, carreira, perfil, imagem, etc. E não pela capacidade de discutir este País, sem pruridos, na sua relação com Espanha, com as suas regiões, que cada vez menos o vão sendo, com o Atlântico, com o Brasil, com a língua materna (que cada vez é menos importante), com a cultura, a história e já agora a economia.
Afinal digam lá ao estado em que é que ele deve apostar – na tecnologia, ciência, conhecimento e turismo. OK, então deixem lá fechar as têxteis, sapateiras, montagens de carruagens e automóveis, construtoras e coisas parecidas.
Ou então o estado aposta nas infra-estruturas e ali vai TGV, Ota, mais auto-estradas, edifícios públicos, emigrantes clandestinos, Know-how estrangeiro (especialmente espanhol) e borrifa-se o choque tecnológico.
E … se calhar continua! Porque não tenho ainda as respostas.
P.s. Desculpem lá o jeito brejeiro, mas isto não tinha vontade de ser um texto cientifico ou a presunção de ser sequer um texto – é simplesmente uma opinião!