Aos trinta e sete anos, maravilhosa idade com que por agora me encontro, tenho revelado a mim próprio a entediante monotonia de quase nunca me surpreender com nada. Surpreendente presunção esta que leva alguém a considerar que já nada o surpreende, mas de facto, tem sido assim. Hoje porém não foi.
Por motivos familiares, relacionados também com a minha actividade profissional, vi-me enredado nos meandros da SRU, Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo, dos seus procedimentos e da evolução do seu primeiro programa, a reabilitação do quarteirão de Carlos Alberto.
Tudo, mas tudo, o que aqui escrevi e antes, quando o SEDE era ainda um fórum privado, se confirmou. A verdadeira surpresa é que as coisas são ainda muito piores do que eu, nas piores previsões, poderia imaginar.
Reabilitação é uma palavra vaga. Reabilitar não é recuperar, não é reformar, não é reparar. É simplesmente tornar habilitado, no caso para o que quer que lhes apeteça.
Acreditem, é possível ignorar a história, a tradição, o espaço e interesses públicos, o espaço e interesses privados, as tipologias de habitação, a caracterização volumétrica e do espaço, a arquitectura, a vivência urbana, em nome de uma nova habilitação para uso que faz da cidade uma espécie de cenário de papelão. Acreditem, para fazer o que lá vão fazer era preferível não fazer nada, porque nada vai melhorar por aqueles lados.
Só para o registo, a ideia é juntar todos os edifícios desocupados e / ou problemáticos no quarteirão demolir integralmente o miolo e fazer um edifício novo. Ficam as fachadas.
Este tipo de intervenção já não é grande coisa quando estamos a falar de um único edifício, que sendo remodelado dá origem a um novo em que apenas se mantêm a plasticidade exterior. É fácil de perceber porque. Mas aqui o caso é outro. Os novos espaços criados (apartamentos, estabelecimentos comerciais, garagens, etc.) vão ser caracterizados por uma miscelânea arquitectónica resultante do aproveitamento das antigas fachadas, com as suas distintas formas e materiais e cores, com alinhamentos horizontais totalmente diversos. Na mesma casa coexistirão janelas de vários edifícios, a diversas alturas, com outras de desenho actual e novas características. Um mesmo vão tanto poderá servir uma cozinha, um quarto, um w.c. ou mesmo uma garagem ou um estabelecimento comercial. Independentemente da sua guarnição ser de granito de Alijó, de argamassa saibrosa ou outra qualquer.
Sem querer prolongar muito a conversa, refiro apenas que não há projecto ou arquitecto, por melhor que seja, que faça ali qualquer coisa de jeito que não esteja condenada, porque o conceito que presidiu aquele modelo de reabilitação está errado desde o principio, para além de que propõe, sem mais, usos do espaço que já provaram não resultar.
Mas há mais. Toda a parte dos procedimentos é completamente caricata, sendo já evidente que, se aquele programa for para a frente, vai mesmo ser filho único. Eu disse SE, porque me restam muitas dúvidas que realmente vá.
Em tempos pronunciei-me, aqui neste Blogue, sobre a SRU. Aliás sobre as SRU’s. Na altura julgo ter deixado claro que entendia ser um péssimo modelo de reabilitação urbana, serem mais uma das secreções perniciosas do estado, das que oferecem argumentos aos detractores do estado social, e que para além disso não iriam fazer nada que um qualquer departamento municipal não pudesse fazer. Um ano depois tive a absoluta confirmação disso mesmo, só que de uma forma tão penosamente surpreendente que preferia ter continuado na entediante e presunçosa monotonia dos que, aos trinta e tais anos, acham que já viram tudo. Mesmo um porco a andar de bicicleta e uma pulga a dançar rock&roll.
Por motivos familiares, relacionados também com a minha actividade profissional, vi-me enredado nos meandros da SRU, Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo, dos seus procedimentos e da evolução do seu primeiro programa, a reabilitação do quarteirão de Carlos Alberto.
Tudo, mas tudo, o que aqui escrevi e antes, quando o SEDE era ainda um fórum privado, se confirmou. A verdadeira surpresa é que as coisas são ainda muito piores do que eu, nas piores previsões, poderia imaginar.
Reabilitação é uma palavra vaga. Reabilitar não é recuperar, não é reformar, não é reparar. É simplesmente tornar habilitado, no caso para o que quer que lhes apeteça.
Acreditem, é possível ignorar a história, a tradição, o espaço e interesses públicos, o espaço e interesses privados, as tipologias de habitação, a caracterização volumétrica e do espaço, a arquitectura, a vivência urbana, em nome de uma nova habilitação para uso que faz da cidade uma espécie de cenário de papelão. Acreditem, para fazer o que lá vão fazer era preferível não fazer nada, porque nada vai melhorar por aqueles lados.
Só para o registo, a ideia é juntar todos os edifícios desocupados e / ou problemáticos no quarteirão demolir integralmente o miolo e fazer um edifício novo. Ficam as fachadas.
Este tipo de intervenção já não é grande coisa quando estamos a falar de um único edifício, que sendo remodelado dá origem a um novo em que apenas se mantêm a plasticidade exterior. É fácil de perceber porque. Mas aqui o caso é outro. Os novos espaços criados (apartamentos, estabelecimentos comerciais, garagens, etc.) vão ser caracterizados por uma miscelânea arquitectónica resultante do aproveitamento das antigas fachadas, com as suas distintas formas e materiais e cores, com alinhamentos horizontais totalmente diversos. Na mesma casa coexistirão janelas de vários edifícios, a diversas alturas, com outras de desenho actual e novas características. Um mesmo vão tanto poderá servir uma cozinha, um quarto, um w.c. ou mesmo uma garagem ou um estabelecimento comercial. Independentemente da sua guarnição ser de granito de Alijó, de argamassa saibrosa ou outra qualquer.
Sem querer prolongar muito a conversa, refiro apenas que não há projecto ou arquitecto, por melhor que seja, que faça ali qualquer coisa de jeito que não esteja condenada, porque o conceito que presidiu aquele modelo de reabilitação está errado desde o principio, para além de que propõe, sem mais, usos do espaço que já provaram não resultar.
Mas há mais. Toda a parte dos procedimentos é completamente caricata, sendo já evidente que, se aquele programa for para a frente, vai mesmo ser filho único. Eu disse SE, porque me restam muitas dúvidas que realmente vá.
Em tempos pronunciei-me, aqui neste Blogue, sobre a SRU. Aliás sobre as SRU’s. Na altura julgo ter deixado claro que entendia ser um péssimo modelo de reabilitação urbana, serem mais uma das secreções perniciosas do estado, das que oferecem argumentos aos detractores do estado social, e que para além disso não iriam fazer nada que um qualquer departamento municipal não pudesse fazer. Um ano depois tive a absoluta confirmação disso mesmo, só que de uma forma tão penosamente surpreendente que preferia ter continuado na entediante e presunçosa monotonia dos que, aos trinta e tais anos, acham que já viram tudo. Mesmo um porco a andar de bicicleta e uma pulga a dançar rock&roll.
2 comentários:
Olá Fortuna
Obrigado por mais este esclarecimento.
Era importante que este(s) assunto(s) fosse mais discutido, por arquitectos sim mas de forma aberta a todos.
Hehe com apenas 37 anos já querias ter visto tudo?
Prepara-te para ser ainda muito surpreendido (bem e mal...)
Abraço
AMNM
Relembro, claro, o que já escrevi sobre isso.
Aliás na 1ª oportunidade disse numa sessão publica no Bonfim, onde falou e bem o meu amigo Pinto Faria, que a SRU ia fazer menos que o CRuarb. E eu acho que o Cruarb estava a funcionar mal e já era um simples entrave no porto.
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