quinta-feira, novembro 24, 2005

Comunicado de Imprensa

Quando, há cerca de um ano, acedemos ao convite do presidente da Federação Distrital do Porto para integrar o Secretariado, fizemo-lo na convicção de que era um processo necessário de unificação, destinado a dar-lhe as melhores condições para enfrentar as autárquicas e concretizar os seus compromissos eleitorais internos, entre outros, o de ganhar a maioria das câmaras da Área Metropolitana do Porto.

Após o desastre eleitoral de Outubro último na AMP, agravado pelas condições da derrota pessoal do presidente da Federação no descalabro da Câmara do Porto, onde o PS tinha uma forte tradição de bons resultados e onde o adversário se encontrava mais debilitado pelo seu isolamento social e político, a situação alterou-se deixando de fazer sentido o esforço anteriormente encetado.

A agravar, o facto de o Secretariado, pelo menos desde que o integramos, nunca ter funcionado com regularidade (passam-se meses sem reuniões e não há reunião que não seja adiada pelos menos uma vez pelos afazeres súbitos do presidente) e sobretudo nunca ter tomado decisão nenhuma, pois o poder decisório esteve sempre concentrado unicamente nas mãos do presidente.

Em suma, o Secretariado da Federação nunca passou de uma encenação.

Mas, ainda pior, tem sido o silêncio cúmplice do Presidente da Federação em relação à política centralista do governo. Não só em relação a um processo de regionalização metido na gaveta, como em relação ao abandono do projecto ferroviário de ligação Porto-Vigo, e também Aveiro-Salamanca, relegados para o Dia Do Só Nunca, em favor de todo o empenho no projecto TGV Lisboa-Madride e Lisboa-Porto . E quando se deveria investir na modernização das inter-regionais depara-se, pelo contrário, com a inacreditável destruição em curso das linhas Porto-Régua-Pocinho e Porto-Valença! Bem como em relação a um projecto da OTA, que além de desajustado da situação financeira do país, e mais que duvidoso em todas as outras vertentes, funcionará como mais um aspirador nacional à volta da Capital, acentuando o processo em curso de liquidação do tráfego de Pedras Rubras e agravando a macrocefalia que está a destruir o país. Este, de resto, foi sempre o ponto de vista do PS/Porto! Se alguém mudou de opinião não foi pela geografia ter mudado, foi pela cegueira partidária e pela postura serventuária, que encobre sempre as conveniências da promoção política pessoal.

É que sobre tudo isto, o Presidente da Federação, que em promessas internas e externas se multiplicou como paladino da região de um PS/Porto com peso nacional, não toma uma iniciativa interna ou externa, não diz uma palavra, porta-se como um funcionário venerador e servil, não contando para a nada na política do PS a nível nacional e portanto do governo

Não porque o Porto, com a principal Distrital do país, não tenha peso por si, como mostra a tradição. Mas porque o presidente está preocupado com tudo, menos com bater o pé (nem forte nem levemente) em favor da Área Metropolitana, do distrito e da região como seria o seu dever.

Pelas razões expostas, não tendo já nenhum sentido a minha participação no Secretariado e não compactuando com o servilismo em relação ao centralismo, informo os órgãos de comunicação social que acabo de apresentar a minha demissão do referido Secretariado da Federação Distrital do Porto do PS.

Porto, 24 de Novembro de 2005

Pedro Baptista

9 comentários:

Anónimo disse...

" Bem como em relação a um projecto da OTA, que além de desajustado da situação financeira do país, e mais que duvidoso em todas as outras vertentes, funcionará como mais um aspirador nacional à volta da Capital, acentuando o processo em curso de liquidação do tráfego de Pedras Rubras e agravando a macrocefalia que está a destruir o país. "

Então Daniel ?!....

AM disse...

E agora Pedro?
A luta continua claro
Mas onde? Como? Com quem?

Um abraço
AMNM

AM disse...

Caro JF

Só posso, naturalmente, falar por mim, o Daniel, se entender, falará por si.
No meu caso, que não sou opositor da construção de um novo aeroporto para "lisboa", em substituição da portela, não vejo porque razão o facto de o Pedro Baptista ter uma opinião contrária a esse projecto possa ser mais relevante que outras a favor ou contra.
Há muitas opiniões, de pessoas que considero, contra o projecto e, outras tantas, a favor.
Das que não considero, muitas também a favor e outras tantas contra.
Por isso a opinião que mais pesa é, naturalmente, a minha :)
Por acaso neste assunto (e no do TGV) subscrevo (quase) na íntegra o que escreveu o Daniel e que não me parece nada fundamentalista:
"Relativamente à OTA não fazia aeroporto nenhum, mas se se fizer não vejo que dai venha um grande mal ao pais. Quanto ao TGV, há dez anos já era tarde."

Quanto ao facto de o Estado ter que ser o "motor da economia" é apenas uma evidência.
Não é desejável, mas é indispensável, pois, onde estão os privados para serem então o tal motor?
Isto com Belmiros e Amorins foi a algum lado?

AMNM

Anónimo disse...

Caro AMNM:

"Isto com Belmiros e Amorins foi a algum lado?"

Porque não fazemos a pergunta de outra forma: isto com o Estado como motor foi a algum lado?

(verifico com agrado que somos capazes de trocar ideias sem ser rotulados de "imbecis" - sempre é um progresso aí à esquerda...) :-)

AM disse...

Caro JF

Isto com o Estado (ou melhor, com as acções decididas por aqueles que escolhemos (?) para nos representar) como motor, chegou até aqui.
Podia (devia) ter chegado mais longe e mais depressa, sem dúvida.
Podia nem sequer ter chegado aqui.
Uns mais, outros menos, todos somos responsáveis, e, nada mais fácil, mas também menos sério, que apontar apenas responsabilidades a outros e referir o "estado" como uma entidade malévola, um monstro mítico, sobre o qual não temos qualquer domínio nem acção.
Quanto a ter como motor os "privados" (os tais Belmiros e Amorins até são dos BONS exemplos) nunca o saberemos, todas chamam por eles mas eles nunca aparecem.
Se calhar a entidade mítica é afinal a tal "sociedade civil" que essa é que nunca ninguém viu, mas á qual tantos "rezam".

(Obviamente que podem ser discutidos assuntos, de forma razoável entre pessoas razoáveis, sem ninguém ser rotulado de "imbecil".
Quando os assuntos a discutir, a forma de os discutir ou as pessoas que os discutem não são "razoáveis" (naturalmente segundo o meu critério) aí já se torna mais dificil, o que não tem nada a ver com esquerdas ou direitas (detesto esses carimbos simplificadores) mas sim com o meu, realmente curto, rastilho)

Um abraço
AMNM

Anónimo disse...

Caro ANMN,

O Belimiro é "só" o maior empregador nacional. Não aprecio em especial o feitio do personagem mas acho que ninguém o pode acusar de não fazer nada por isto (notar bem que ele não o faz/fez com motivações altruístas mas o resultado está à vista).

O Estado não é uma entidade dos x-files: existe e é necessário. Mas faz muitas asneiras e é contra isso que devemos reclamar. Aliás como vc faz a propósito das obras nos Aliados - a lógica é a mesma, a escala é que é absolutamente diferente.

Ainda em relação à OTA deixo só uma pergunta: não é estranho que os potenciais beneficários/utilizadores do novo aeroporto (companhias aéreas, operadores turísticos) estejam contra?... Então para quem é aquilo? É esse o problema do tal Estado: acha que sabe o que há-de fazer para o nosso bem, e gasta milhões e mihões com essa boa vontade...

Um abraço.
JF

(quanto ao seu "rastilho curto", enfim, já começo a perceber certas coisas.... - espero que mantenha o sentido de humor)

AM disse...

Caro JF

Quando escrevi, no meu comentário anterior: "os tais Belmiros e Amorins até são dos BONS exemplos" não estava de forma alguma a ser irónico.
Goste-se ou não da(s) personagens o facto é que, de entre os operadores privados, são dos que criam mais riqueza e mais emprego, donde devem (em minha opinião) ser acarinhados e incentivados, pelo "estado" (lá estou eu a cair em reducionismos).
Como refere, não o fazem, naturalmente, por razões altruistas, nem tem nada que o fazer por essas razões, nem é isso que devemos esperar deles.
O que lLamento é que haja tão poucos exemplos destes e que, por isso, não seja possível deixar apenas à "boa vontade" dos privados a função de "criar riqueza" e de "criar emprego" sendo fundamental o papel do "estado" como "motor" ou "locomotiva" para que, então, e a reboque, os restantes "privados" exerçam a sua actividade, já que por si, sozinhos ou agrupados, não o querem ou sabem fazer.

Diz que o "estado" faz muita asneira, aí digo, mais uma vez, que não é verdade.
Quem faz as asneiras, bem ou mal intencionadamente, são as PESSOAS.
As PESSOAS que, nós (?) escolhemos para em NOSSO NOME gerir os assuntos do Estado.
Não podemos alijar responsabilidades (nem sequer eu, que não voto e denuncio, deixo de ser responsável, nem que seja por não fazer o suficiente).

Relativamente à OTA a minha opinião (já desenvolvida antes) é a seguinte:

A construção do novo aeroporto de lisboa, em substituição da Portela, é uma gigantesca operação imobiliária que irá criar imensa riqueza.
Cabe ao Estado, escolher a localização mais adequada, escolheu a OTA, não tenho meios para opinar que terá sido, ou não a mais adequada (no entanto, ao contrário do que afirma, ouvi o presidente executivo da TAP e o presidente do sindicato dos pilotos, afirmarem que não havia qualquer inconveniente nesta decisão).
Cabe ao Estado garantir que, dessa imensa riqueza criada, seja constituida como receita do Estado a parte correspondente aos impostos devidos.
Pessoalmente (embora admita que os mais "liberais" discordem)entenderia como extremamente positivo que o Estado, para além dos impostos, obtivesse também parte dos LUCROS destas operações, dado que afinal é o estado o promotor e o garante do negócio, assumindo os RISCOS do mesmo, donde, de acordo com qualquer teoria económica seria ao Estado que caberia arrecadar o LUCRO.

Admito que haja algumas entidades que estejam contra, mas, em minha opinião parte dessas entidades não analisaram devidamente o assunto, umas, outras questionam, até por "bairrismo" (salutar ou não) a oportunidade "deste" investimento "agora", enquanto que uma grande parte, questionará o projecto, de forma menos séria por simples partidarismo.

É a minha opinião, sem humores, ironias ou qualquer outro tipo de "molho" ou "guarnição".

Um abraço
AMNM

Portuense disse...

O silêncio de Assis relativamente a estas afrontas à AMP choca quem, como eu, o ouviu no Majestic a clamar contra o centralismo em período de campanha eleitoral autárquica. Quero acreditar que estará nos bastidores a negociar contrapartidas para a região, mas o prolongamento deste silêncio não é um bom auspício.

Teófilo M. disse...

Começo a entender a razão pela qual o PS não se esforçou, a sério, por ganhar o Porto.

O PS, por este caminho, vai levar muito tempo a recuperar, a não ser que o Rui Rio, faça tanta asneira que seja impensável ao PSD encontrar outra alma caridosa daqui a quatro anos.

A asfixia lenta do País está aí... para durar.