sexta-feira, novembro 11, 2005

Pensar melhor

O MAnuel Pina, figura que bem considero, nomeadamente pela escrita, disse ontem assim no JN:
"Siza Vieira e Souto Moura estão a fazer nos Aliados um monumento à autocracia. A autocracia já merecia um monumento no Porto! Ora, um monumento à autocracia tem que ser cinzento (e, se possível, "sizento"), que é a cor do posso, quero e mando. E tem que obedecer à regra da autocracia, a uniformidade. Por isso, Siza e Souto Moura conceberam os novos passeios, a nova placa central e as novas faixas de rodagem da Avenida, onde até aqui reinava uma perigosíssima diversidade (até flores havia na placa central!), do modo mais uniforme que puderam granito cinzento, granito cinzento e granito cinzento. Coexistiam por ali, diversamente, uma Praça do General Humberto Delgado, uma Avenida dos Aliados e uma Praça da Liberdade; Siza e Souto Moura tornaram tudo numa coisa só: assim a modos que um Rolex "made in Taiwan".
Dessa maneira, os portuenses sempre poderão ir a Paris sem sair de casa. E como a calçada à portuguesa é também excessivamente diversa e excessivamente portuguesa, decidiram fazer-lhe o mesmo que às árvores e às flores, arrancá-la e uniformizá-la. O Porto terá uma Avenida de uniforme "signé Siza". Para tudo ficar uniformemente perfeito, só falta obrigar os portuenses a pôr fato cinzento quando vierem os fotógrafos das revistas de arquitectura".
De facto, sempre disse que aceito uma forte intervenção nos Aliados, como se fez com comandados pelo Marques da Silva nos anos 30. Mas confesso que são muitas as pessoas que admiro e tenho estima pessoal, que se insurgem contra esta obra. Acho, sinceramente que o Siza e o Souto de Moura estão cada vez mais distanciados das suas origens e parece-me que esquecem que nunca serão cidadãos do mundo sem conhecerem a sua aldeia (num plagio pessoano). Por isso as palavras do Manuel Pina "doeram-me" - às vezes nós arquitectos distanciamo-nos demasiado e afundamo-nos em conceitos ou linguagens supostamente universais, que até o pós-modernismo já matou - diga-se. E dizer que o Porto é conservador é ser burro, coisa que não acho do Eduardo Souto Moura, assim para continuar a dizer o que tem dito, devia vêr como os portuenses absorveram a "Casa da Musica"- já é nossa - como o Guggeinhein é de Bilbao.
E se, Siza e Souto de Moura, julgam que o exemplo de Barcelona na contestação das comissões de vizinhos, às praças duras dos anos 80 é a mesma história do que o que está a acontecer agora no Porto, estão bem enganados.

2 comentários:

Teófilo M. disse...

Eu, que até nem sou arquitecto, gosto de fortes intervenções onde elas sejam necessárias, como por exemplo na envolvente da Rotunda da Boavista, no alargamento da Rua do mesmo nome, na Avenida da Ponte, nas encostas do Douro, na Praça D. João I, na rua de Costa Cabral, e em muitos mais locais que necessitam de tal.

Quanto à da Avenida, acho que se pouparia muito mais em fazer intervenções menores que não acinzentassem ainda mais a cidade.

Anónimo disse...

«...Siza e Souto de Moura, julgam que o exemplo de Barcelona na contestação das comissões de vizinhos, às praças duras dos anos 80 ...é a mesma história do que o que está a acontecer agora no Porto, estão bem enganados.
»?
O que se passou, elucidem as pessoas comuns que não estão dentro do assunto! Não somos todos ...que dizer?... arquitectos?
(é o chamado elitismo de trazer por casa;-(