sexta-feira, março 04, 2005

Chiques & Chicos, de Pedro Baptista



Rio, nº 2 do PSD, é um dos grandes derrotados de um magote representativo da direita portuguesa onde pontificaram Barroso, Ferreira Leite, Portas e Lopes.

Claro que Rio também é penalizado porque veio para o Porto pela mão de Barroso, o principal responsável pelo afundamento da direita, impôs Aguiar Branco como cabeça de lista e protagonizou o veto a Pôncio Monteiro, trazendo de novo à colação o seu ódio fanatizado a um dos principais emblemas da região.

Mas Rio é sobretudo penalizado na cidade e, por arrastamento, na região, pelo deplorável mandato à frente da edilidade tripeira. Mandato que faz esquecer, pela negativa, as piores prestações da direita na Câmara do Porto, e houve, nessa matéria, algumas que pareceram inultrapassáveis?

No entanto Rio não é pessoa de ilusões. Tão gelado no raciocínio como no sentimento em relação a uma cidade e uma região por onde anda clandestino, sabia, desde há muito, o que o esperava. É pois natural que as parquíssimas iniciativas de quatro anos de mandato desembocassem, bem à moda do mais rasteiro que tem a política, nos meses pré-eleitorais.

Quem visse o pasquim de propaganda, emitido pela Câmara, que chegou às caixas do correio dos eleitores do município portuense, ao bom estilo João Jardim, percebia que a grande aposta do mandato de Rui Rio era afinal, a realização, nos meses anteriores à campanha eleitoral, duma série de números sobre a promoção automóvel, desembocando numa cena de feitiço revivalista em torno das corridas dos anos 50 e 60, que têm, naturalmente, um lugar na memória dos que, com a nossa idade, gostam de recordar os anos do vigor maior.

Numa cidade incapaz de aderir ao Dia Europeu sem Carros, promover os transportes públicos ou dar continuidade aos projectos que incrementavam o eléctrico, onde de resto o estacionamento automóvel é caríssimo e os níveis de poluição altíssimos, só nos faltava era a Câmara transformado num centro promoção do automóvel, com redomas a promoverem D. Elviras, descontos nos restaurantes e estacionamento gratuito para os proprietários de carros antigos e tudo porque Sua Excelência o presidente da Câmara é um dos fãs! Tudo sob a consigna subtil e moderníssima de Porto Chique para um presidente armado em Chico! Que chiqueza de mentalidade! Numa cidade atolada de problemas sociais, com o crescimento a zero e onde a cultura, que outrora esteve no topo, no que diz respeito à Câmara, bateu e ficou no fundo.

Onde de resto, o trânsito automóvel é caótico, sem a Câmara fazer nada a não ser asneiras, como por exemplo, a de querer alterar a saída do Carregal do Túnel de Ceuta, com o pretexto disparatado de prejudicar o hospital, provocando um monumental imbróglio e mais prejuízos financeiros para o erário público! Quatro anos para acabar um buraco e, pelos vistos, por culpa de Rio, com o compreensível chumbo do IPAR, ainda não é desta!

Pior o que se passa na Boavista e a estórea do Metro, o único investimento público com significado existente, vindo como se sabe dos bons tempos. Entre o Parque da Cidade e o Castelo do Queijo, as tílias e os carris foram arrancados por uma Empresa Municipal que procede ao alcatroamento da via central, com vista a criar um deserto de alcatrão onde os Elvis Presley do volante, na versão do Reumático, deslizarão para a propaganda da candidatura das direitas ou do PSD à Câmara do Porto. Tudo a propósito de serem obras preliminares à instalação do Metro.

Donde tendo em conta a leviandade com que a hipótese do Metro de Superfície na Boavista foi aventado, sem ter em conta o brutal impacte ambiental, a rendabilidade reduzidíssima, e sem a análise de alternativas para resolver a "bronca" da Senhora da Hora, percebe-se que a pressa do Metro na Boavista é apenas (ou também) a pressa de fazer o frete à Câmara para preparar o terreno para o "número" das corridas do antanho.

Nem seria de espantar a esperteza de que fosse mesmo a Metro a pagar, a pretexto de serem obras necessárias para a famigerada "linha". Se a Câmara paga estacionamentos e descontos de restaurantes dos "Elviras" e quem trabalha que se amole a pagar o estacionamento ou um metro caríssimos, porque não há-de a Metro pagar a uma Câmara, mais endividada do que nunca, pela gestão calamitosa de Rui Rio? Pelos vistos é chique.

Chique eras tu, grande Chico, memória do Palácio! Estes são apenas chicos?

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque não chamam o ex-ministro ou o Cardoso?