quarta-feira, março 02, 2005

Afundanço (ou "A foice em seara alheia")

O PSD tem hoje um grande problema!
Ainda não perceberam porque é que perderam as eleições. E preparam-se para perder mais...

Voltando um pouco atrás no tempo, aos tempos da demissão de Guterres fácilmente nos vem à memória que Durão Barroso era um líder a prazo. Tudo indicava que seria afastado no congresso seguinte, tal era a falta de habilidade para liderar a oposição, que já nessa altura era liderada (embora com menos assertividade) pelo bloco de esquerda. Quem não se lembra dos "shows de bola" que António Guterres dava no parlamento? Ora, no rescaldo das eleições autárquicas de 2001, nas quais o PSD ganhou as principais câmaras essencialmente por questões especificas relacionadas com cada uma delas (O regresso de Gomes ao Porto / O inacreditável comportamento de Cardoso, A colagem de João Soares ao PREC e, talvez, a co-incineração em Coimbra) e, na consequente demissão de António Guterres, o poder caiu no colo de Durão Barroso, um líder fraco, mal preparado e inábil. Ainda assim, nas eleições legislativas de 2002, Ferro Rodrigues esteve proximo de conseguir uma vitória que teria sido histórica. Conhecendo Durão Barroso as circunstancias da sua própria fragilidade e, perante um resultado muito razoavel do PS, não teve duvidas em abandonar as promessas eleitorais (o Choque Fiscal concretamente, teria tornado as coisas muito diferentes) e aproveitar o ensejo para tentar trucidar o Partido Socialista. Apareceu assim o "discurso da tanga" e o recorrente despesismo socialista. Nesse dia, Durão Barroso enterrou o PSD por uns bons tempos, porque avaliou mal as debilidades colectivas dos portugueses. Os portugueses (o melhor povo do mundo) são inconstantes na sua autoconfiança, capazes de elevados momentos de euforia e realização colectiva, mas igualmente sujeitos a depressões e designios paralizadores (o fado, sempre o fado). A "tanga" rapidamente passou a "fio dental" e o país entrou em recessão. A seguir ganhamos as europeias. Ele, como é lógico (outra coisa não seria de esperar) pôs-se ao fresco assim que pôde naquele golpe de teatro que todos recordamos, mas que está ainda por explicar (talvez o possamos ler nas memórias de Vitorino). E a seguir "ganhamos" as regionais.
Santana Lopes foi apenas um episódio, triste, é certo, mas apenas um episódio. Quando ele para lá foi já o PS tinha ganho as eleições que ainda não tinham ocorrido. Assim indicavam as sondagens que mais tarde tanta credibilidade mostraram ter. É certo que foram uns meses de total desgoverno e trapalhada generalizada, mas não passaram da gota que fez transbordar o copo do Presidente, servindo para finalizar de vez com um periodo de lenta agonia governativa.

Agora, perante o desaire eleitoral e o "fenómeno" Santana Lopes, é grande a tentação do PSD de recuperar a credibilidade perdida e os votos que julga pertencerem-lhe. A aposta vai inteirinha para Marques Mendes ou, de preferencia, para Manuela Ferreira Leite. Em oposição a Luis Filipe Menezes que representa um outro género de Santanismo, embora igualmente mau, ou até pior. E aqui é que está o erro clamoroso que vai afundar o PSD por uns bons anos.

Em primeiro lugar porque essa credibilidade "cavaquista" não existe. Esse partido quase sem doutrina, de matriz reformista já não está lá, e já lá não estava no tempo de Durão Barroso. Desses, os que ainda lá estão, são sobras que apenas serviram um tempo, que como se sabe, não volta para trás. Um partido que pretende acompanhar o tempo precisa de encontrar a sua própria forma de se abrir à sociedade. Nós, no PS elegemos os nossos orgãos emvoto directo e secreto dos militantes. Eles andam à mais de uma década a falar nas "directas" e nem conseguem acabar com as inerências.

Em segundo lugar, porque qualquer líder que surja a seguir a um desaire eleitoral nunca poderá vingar, estas coisas precisam de tempo. É o chamado "líder tampão", o que estanca a torrente.
Nesse sentido, é um líder para sacrificar, que pode, na melhor das hipóteses, ter um papel importante na reorganização do partido. Marques Mendes não parece disposto a tal, diz que não há tempo nem dá jeito. Manuela Ferreira Leite ainda não disse nada, mas adivinha-se...

Em terceiro lugar, porque as eleições que se avizinham são autarquicas, que só podem ser ganhas por lideres calorosos junto do eleitorado, ou então através de projectos politicos muito consolidados. Nada disso vai acontecer no PSD de Marques Mendes ou Manuela Ferreira Leite. Apenas Menezes estaria em condições de minorar a derrota, pelo seu lado aparentemente caloroso e afectivo junto das populações, mas ainda assim teria que conseguir contrariar a formidável onda vitoriosa criada pelo PS.

Por ultimo, porque se o PSD insistir em recuperar a credibilidade perdida utilizando elencos claramente cavaquistas, são eles que, dizimando-se a si próprios, vão derrotar as aspirações presidenciais do próprio Cavaco Silva.

Posto isto, poder-se-ia pensar que basta ao PS governar a preceito e esperar sentado. Mas não.
(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Para já, governar foi coisa que o PS nunca soube fazer.

Depois,se quizer vá ver o que disse no comentário a "jogo de cintura" um pouco acima.

E como falou em autarquicas não se esqueçam de convidar o "pessoal" de Matozinhos e o pessoal de Felgueiras. Êsses sim são os verdadeiros socialistas que se atropelam nos mercador,matam futurod deputados,pesseguem os correligionários pelas rus de Felgueiras e não matam o presidente da distrital porque o meteram num carro e fugiram. Enfim!