sexta-feira, setembro 02, 2005

Mais Alegre

(Já que vou de férias)

Na sequência do meu anterior “post” sobre este assunto, foram colocados vários comentários, os quais, a serem respondidos no local devido (a caixa de comentários do “post”) perderiam talvez algo em termos de visibilidade e eu entendo que, mais do que analisar o fenómeno Mário Soares, o que aliás, está a ser feito, profusamente, aqui e noutros “blogs”, é interessante analisar o episódio Manuel Alegre no que este tem de mais revelador quanto ao que realmente me interessa:

A qualidade da democracia
O papel dos partidos
A participação dos cidadãos

Apreciando de igual forma todos os comentadores, não posso no entanto deixar de notar que, enquanto que alguns dos comentários valorizam a tal análise “à esquerda” que eu entendo que este caso deve motivar, outros, mais “de direita”, limitam-se a repetir aquilo que, para mim, não passam de preconceitos e frases vazias de conteúdo que se vão espalhando (de pleno direito) por variados “blogs”, mais ligados a essas tendências.
Desculpar-me-ão assim por não ir gastar espaço, neste “blog”, assumidamente de outra área política, na resposta a pequenas “picardias” as quais, repito são sempre bem vindas.

Um dos comentários, em linha com uma certa corrente do pensamento, salienta a “atitude cívica de Manuel Alegre” afirmado que este “pertence ao grupo daqueles que colocam a "alma" e o "princípio" em vantagem sobre o "pragmatismo"”, Mas…
Qual atitude cívica de Manuel Alegre?

Eu defendo que atitude cívica era candidatar-se se, em verdade, entendia que isso era o melhor para o país e a democracia.
Isso é que era colocar a “alma” e o “princípio” em vantagem sobre o “pragmatismo”.
Manuel Alegre não podia ter sido mais “pragmático”.
Não queria ser responsabilizado por uma “má” escolha (e resultado eleitoral) do PS, não queria ser responsabilizado por dividir o PS e dividir “a esquerda” e não queria ser responsabilizado por uma, eventual, vitória “da direita”.
Então o que quer afinal Manuel Alegre?
Será que, para Manuel Alegre, é suficiente ser não responsável?

Quer Manuel Alegre, quer alguma “direita” teorizaram que o aparecimento de outras candidaturas, “à esquerda”, dividindo o eleitorado “de esquerda”, favoreciam objectivamente a candidatura “da direita”, ora isso, em meu entender, é uma análise erradíssima e, já em 1986, a experiência demonstrou o contrário.

Ainda estou convencido que, caso não Zenha e Pintassilgo não tivessem concorrido, contribuindo assim para talvez o mais vivo debate “à esquerda” de que houve memória em Portugal, Freitas do Amaral teria, facilmente, sido eleito à primeira volta.

Foi o grande debate “à esquerda” com a consequente participação e mobilização do eleitorado “de esquerda” que impossibilitou “a direita” de alcançar os 50% na primeira volta.
Foi a verificação de que, afinal, se tinha andado tão perto, que reforçou a mobilização de toda “a esquerda”, ultrapassando, momentaneamente, as suas diferenças, que possibilitou a vitória de Mário Soares na segunda volta.

Estou à vontade para analisar esse período da nossa história recente e encontrar nele as semelhanças e as diferenças para o que agora vivemos.

Foi o último acto eleitoral em que participei, talvez alguns dos que me lêem ainda então não votassem.
Votei, com esperança e entusiasmo, Pintassilgo, na primeira volta, votei, com pragmatismo mas com determinação, Soares, na segunda.

O tempo que vivemos não é assim tão diferente do de então.

Mas...

Alegre (ou Jerónimo) não é Zenha.
Muito menos, Louçã é Pintassilgo.
Soares é ainda Soares, com tudo o que de positivo e negativo isso implique.

Cavaco (será que aparece ?), também não é Freitas, mas...

Muitos dos que agora falam, blogam e votam, ainda não votavam em 86, muito menos fazem ideia "do que custou a liberdade"

Faz falta uma candidatura séria, "à esquerda", e livre de conjunturais interesses partidários.

Muitos (que não eu) julgaram que Alegre poderia ser essa candidatura.

Repito, Manuel Alegre prestou um mau serviço ao país e um mau serviço à democracia.
Tentando fazer crer que era por respeito ao PS, prestou também um péssimo serviço ao seu partido.

Serviu apenas a"direita" que jura combater.
Concluindo
Prestou um miserável serviço a si próprio, e é pena, pois a imagem que tinha(mos) de Manuel Alegre, merecia outro respeito.

António Moreira

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