quinta-feira, setembro 01, 2005


Coerência e Politica

A candidatura de Mário Soares à presidência da República é segundo o próprio um absurdo. Concordo, aliás tenho vindo a concordar com várias opiniões que Mário Soares tem expressado nomeadamente algumas mais polémicas sobre a forma como se deve enfrentar o fenómeno do terrorismo (entender as suas causas e não cair em maniqueísmos fáceis). Por este mesmo motivo, Soares, quando ainda sensato e não dominado pela sua vaidade e saciedade de protagonismo disse o que é claro para todos – ele fechou o seu ciclo de intervenção politica quando fez os seus dois mandatos presidenciais – como disse na sua mega festa de oitenta anos: Basta!
Ora a sua volta de 180º mostrou várias coisas ao pais e aos portugueses (e não só pois o resto do mundo de vez em quando olha para nós e faz um triste retrato) que a coerência em politica é algo de que nada vale, assim como a lealdade e a honestidade. Os jogos palacianos são mais do que justificados quando se trata do interesse próprio. A coerência mandava que Soares tudo fizesse para apoiar o candidato Manuel Alegre e não criar uma solução paternalista de salvador da pátria. Não se entende que o Partido Socialista que andou os passados meses a dizer ao pais o quanto importante era a limitação de mandatos e a renovação dos cargos políticos vir agora apoiar uma solução que preconiza a perpetuação das mesmas figuras no poder. Eu gosto de acreditar que a palavra é para manter – e já não gostei de ver Sócrates a aumentar os impostos depois de dizer que não o faria, mas a desculpa do défice pelo menos foi suficientemente fundamentada através de um relatório isento. Mas dizer uma coisa hoje e depois amanhã o contrário sem qualquer tipo de justificação que não seja a possibilidade de o adversário ganhar é um absurdo. Um absurdo que cava ainda mais o fosso entre os políticos e o cidadão e não unifica os portugueses como José Sócrates diz.
Se Cavaco ganhasse as eleições a Manuel Alegre (e não é liquido que tal viesse a acontecer e pois nele iriam votar todos os que ainda se lembram de como era ter Cavaco no poder) isso seria a normalidade democrática, não uma crise politica. Todos devemos fazer um esforço de memória para nos lembrarmos quão só estava Jorge Sampaio quando se candidatou a presidência da republica e o resto é história.
Sou de esquerda mas sou um defensor da democracia – mesmo quando ela não é favorável aos meus interesses. Detesto salvadores da pátria – de esquerda ou de direita.

2 comentários:

Anónimo disse...

APOIADO !!!!

Apesar de dividido, pela grande admiração que tenho por Mário Soares, este tacitismo estratégico de Sócrates e uns quantos que esqueçeram que a esquerda ousa romper e alterar o status, está a destruir o capital de esperança que trouxe com a vitória nas legislativas.
Se, a isto, juntarmos a nova especialidade de (as)salto à vara, não me admira que estão a criar-se as condições para, vencendo o ressabiado Cavaco Silva, venhamos a brevemente a mui desejada desforra da direita.

Anónimo disse...

Concordo, em absoluto, embora continue a achar que falta limar uma aresta....