Jorge Sampaio veio falar das universidades e da necessidade de avaliação externa. Como sabem costumo estar em desacordo com o Presidente, na forma e no tempo em que ele processa as suas opiniões. Neste caso concordo com o conteúdo. É que eu, como docente de uma universidade privada, já fui avaliado pelas comissões do Ministério da Educação e sei que, por vezes, o mesmo rigor não se aplica às universidades públicas ( eles até combinam de umas para as outras quem avalia quem). E sei também que se não houvesse fiscalização, as universidades privadas entrariam por caminhos menos apropriados - e de que maneira. No entanto, basta ouvir um pouco o que se passa nas universidades por esse país fora para concluir que há ainda muito para fazer.
Mas atenção, não defendo o ensino privado em desfavor do público, embora tenha nesta matéria uma visão liberal de esquerda, entendo que devem ser estimulados os cursos públicos e as condições de trabalho das grandes universidades portuguesas. Mas fazer isso começava por outro lado. Por exemplo, o que deviao Presidente dizer é que a sua reprovação da Lei de Bases do ensino, no ano passado, atrasou um ano na entrada de Portugal no sistema de ECTS, ou seja no modelo de Bolonha. Significa, por isso, que as metodologias de uma programação clássica de licenciatura estão a ser abandonadas na Europa - em favor de uma formação continua e mais diversificada. Mais curta, bem sei, mas mais próxima e rápida na integração no mercadod e trabalho, evitando que os jovens arranquem para o primeiro emprego somente aos 25, 26, 27 anos. Ou como está a acontecer, como não encontram trabalho adequado à sua licenciatura avançam para curso de pós-licenciatura. Resultado: Pessoas com muita formação e pouca experiência profissional - propicio aos embates geracionais em empresas e instituições públicas.
Para mim este é o tema, porque a avaliação das universidades é somente importante para pôr cobro à bandalheira que alguns fazem das universidades - e muitos são figuras públicas.
Já agora deixem-me dizer-vos que a coragem de Mariano Gago na aplicação (finalmente) da nota mínima está muito bem. Assim se ajudará à credibilização de instituições públicas e privadas. Acabarão as escolas que se mantém quase artificialmente por estratégias de contorno do sucesso escolar e impulsionar-se-à a conquista de cada patamar de ensino. É que hoje chegar à universidade já nem sequer implica estudo - e não pode ser, porque depois, por muito bons que sejam os docentes, não há milagres.
2 comentários:
Hoje mais do que a ler os comentários, achei graça ver a que noticias do Blogue havia mais reacções. E triste fiquei porque se tivesse que escolher uma que fizesse encher a caixa dos coéntários seria esta. Porque isto de avaliar as Universidades vai dar que falar. Juro que vai. E será necessário ter coragem, coisa que não falta ao Mariano Gago, para interferir com uma instituição como o Ensino Superior.
Boa Avelino por levantares o problema.
Pois Raquel,
Se soubesses o que se passa na minha área!
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