sexta-feira, maio 13, 2005

A febre eleitoral do dr. Rio

por Pedro Baptista

Segundo a Imprensa de ontem, a chamada “requalificação” da zona central portuense, ou seja, do conjunto da Pr. Humberto Delgado, Av. dos Aliados e Pr. da Liberdade, vulgo Praça, começou a ser efectuada no terreno, sem qualquer debate prévio e fazendo orelhas moucas às milhares de vozes que se têm feito ouvir exigindo esclarecimento e diálogo. O mesmo autismo em relação a uma recomendação aprovada pela Assembleia Municipal onde se verbera que a principal avenida da cidade seja transformada sem a participação das pessoas e se considera uma “precipitação” o início dos trabalhos só para fazer jeito ao calendário eleitoral de Rui Rio.

Estamos pois, como em muitos outros casos, mormente no da Avenida da Boavista a ser transformada na Avenida dos Calhembeques, ou no imbróglio do Túnel de Ceuta provocada pela invenção da nova saída, perante a descarada utilização dos dinheiros públicos para a campanha eleitoral do Dr. Rio. Uma campanha feita não a partir da sua sede partidária, mas a partir da Câmara que deveria ser de todos nós e do calendário de obras que, se houvesse uma política séria e honesta, deveria unicamente servir os portuenses.

Aliás o dr. Rio, protagonizando no Porto o discurso da tanga, parando a cidade durante 4 anos, mesmo assim agravando a dívida da Câmara com uma gestão ruinosa disfarçada pela renegociação da dívida a médio prazo e sua projecção para o longo prazo, cortou nas despesas sociais e culturais a torto e a direito mas, para o último ano, o das eleições, descobriu recursos financeiros para este malbaratar eleiçoeiro dos dinheiros públicos.

Percebe-se assim por que manda dizer que não responde para já a Assis, ou seja não faz campanha: pudera, fazendo-a a partir da Câmara e com os dinheiros públicos, para que haveria de gastar do seu?

Eis a razão da pressa do Dr. Rio, das suas “precipitações” constantes, da sua crispação ansiosa, dos conflitos permanentes que arranja com toda a gente e com todas as instituições e dos imbróglios que cria por toda a parte. Não resulta apenas da sua demonstrada incompetência na política, na administração e na gestão municipais; tem um calendário e um objectivo que se chama eleições em Outubro.

Mas além da componente eleiçoeira, a pressa do Dr. Rio tem outra componente: chama-se lógica da ditadura. Tudo fazer nas costas das pessoas, sem as ouvir, sem debater, sem esclarecer e colocá-las perante factos consumados.

É o que se está a passar na Praça. E, pelos vistos, se os cidadãos não reagirem céleres, mesmo muito céleres, teremos em poucas semanas toda a zona central portuense destruída e substituída por um “pastiche” estandartizado, pacote igual ao que, para empobrecimento do país, tem sido aplicado em tudo o que é parvónia, a imitar o “espanhol”: lagedo de granito de ponta a ponta, uma fonte a meio com o joguinho de água da ordem, umas árvores para disfarçar as muitas mais que foram destruídas e, para ser coerente, pistas para automóveis a fornecerem o necessário ar puro!

Já não adianta questionar opções como as da estação de Metro nos Aliados a poucos metro da da Trindade e da de S.Bento. Entende-se que, com a estação, sejam precisas alterações. Até que muitas dessas alterações ou a totalidade possam merecer a concordância de muita gente. Ainda que muita gente que seja contra, passe a ser a favor depois de ser esclarecida e debater o assunto. O que é inadmissível numa democracia ou em qualquer sociedade civilizada do Século XXI é que se destrua a calçada portuguesa, os jardins e a estatuária tradicional, pela calada dos taipais, sem qualquer debate público, como se alguém que não os cidadãos fosse o dono do espaço público. O come e cala.

Nem se venha com o argumento de autoridade de que são projectos dos melhores arquitectos. O que está em causa são as opções estratégicas da encomenda feita aos arquitectos. E sobretudo que ninguém tem o direito de assaltar o espaço público como se fosse seu dono ou dono da verdade ou da beleza. Muito menos se tolera um presidente de Câmara que, vivendo escondido dos cidadãos, age sempre nas suas costas, com a planificação cínica de um calendário eleitoral, atropelando para isso os direitos de todos, sejam instituições ou sejam cidadãos. Acabando afinal por arranjar, como sempre, mais um imbróglio.

Pelo contrário o Porto precisa é de moderação, de quem respeite e ouça as pessoas, sendo capaz de as envolver nos grandes projectos e de as mobilizar para um estado de alma e de acção que permita a todos enfrentarmos, de forma positiva e ambiciosa, os desafios do futuro.
(in "Comércio do Porto" 13 maio de 2005)

3 comentários:

Pedro disse...

Há aqui coisas com que não concordo, mas há uma que me faz "espécie": agora Rui Rio também é responsável pela construção da estação na Av. dos Aliados?!?

SEDE disse...

Onde está dito, ou sequer insinuado, que o Rio é responsável pela estação dos Aliados? Não está, em sítio nenhum do texto. Diz-se que já não vale a pena questionar, porque já está feita, mas nem se tem uma posição fechada nem se aponta o dedo a ninguém. Vamos lá ler as coisas com atenção.

Deve dizer-se, no entanto, que Rio não só tem responsabilidades directas na empresa do Metro nos últimos 4 anos, como tem uma pesadíssima responsabilidade política por tudo quanto a Metro faça, enquanto presidente de Cãmara do Porto e muito mais ainda se as coisas tiverem a ver com o território concelhio.

Sendo por isso claro que não pode, por exemplo quanto ao Metro Hosp. S. João, dizer que tanto lhe vale enterrado como desenterrado abstendo-se de uma questão fundamental para a cidade, região e cidadãos.

O Assis disse bem anteontem que um presidente de Cãmara do Porto que entenda que é só presidente de Câmara do Porto não merece sê-lo.

É preciso preciso perceber o que é o presidente da Câmara do Porto numa região desde sempre dersprovida de aparelho institucional de Estado e portanto de representação institucional. O problema é que, desde o 25 de Abril, Gomes, e agora Assis ( talvez também o Valada mas sem condições,)foram os únicos que o perceberam.

Para Rio é pensamento a mais para o caderno de contabilidade.

Pedro Baptista

Pedro disse...

Caro Pedro Baptista,
num post que está única exclusivamente a criticar o papel de Rui Rio na Câmara, incluir esta frase, para mim está a insinuar alguma coisa...:
"Já não adianta questionar opções como as da estação de Metro nos Aliados a poucos metro da da Trindade e da de S.Bento"

Diga-se, e espero não estar a dizer mal, que esta decisão vem dos tempos do PS (governo e câmara...).

No entanto, peço-lhe desculpa se interpretei mal a frase :-)