Pedro Baptista
O líder do PSD não tem outra saída, para se manter com um mínimo de crédito e até de honra, para não falar de autoridade, senão impedir as candidaturas a Câmaras Municipais dos militantes que estão a ser investigados ou são indiciados por suspeitas de crimes no âmbito das suas funções públicas. Uma atitude que deveria ser também a dos líderes e das organizações distritais. E que não sendo, embora desacredite genericamente a política institucional, cobre de opróbrio sobretudo o partido responsável.
Defendemos sempre que nenhum presidente de Câmara, nem qualquer agente público, deveria ser instado a demitir-se por estar a ser investigado, senão qualquer manobra de oposição suja, inclusive uma carta anónima caluniosa, poderia fazer cair alguém que até pudesse estar a dar o melhor à causa da pública. Por isso, tal como noutros casos, quando Valentim foi indiciado e constituído arguido no “Apito Dourado”, entendemos que nada o obrigava politicamente à demissão. Estamos pois à vontade.
É que outra coisa totalmente diferente são as candidaturas partidárias, em que os partidos, na horizontalidade e na verticalidade das suas estruturas, escolhem os seus melhores candidatos, procurando não só vencer como apresentar as suas imagens como credibilizadoras do partido, da sua função de serviço público regenerador, e portanto da sua ética política. Ora os partidos, sob pena de se tornarem suspeitos, não podem escolher pessoas suspeitas. Mesmo que possam ganhar as eleições locais. Sobretudo, arriscar-me-ia a dizer, se puderem ganhar as eleições locais, porque isso poderá apenas demonstrar até que ponto o vínculo estabelecido entre os eleitores e o eleito é adveniente das relações perversas do populismo mais rasteiro na versão caciquista, que põe inteiramente em causa o funcionamento da nossa democracia.
Nem se venha dizer que tal preceito impede a liberdade do voto popular. Todos sabemos que o direito de voto tem limitações legais e que, portanto, a liberdade de voto, como todas as liberdades, são regulamentadas exactamente para serem garantidas.
Marques Mendes credibilizou-se ao rejeitar Isaltino em Oeiras, acreditar-se-á ou desacreditar-se-á conforme a posição que tomar face a Gondomar e também face a Leiria, embora o caso gondomarense seja de longe o mais grave de toda a política portuguesa.
Na situação de Marques Mendes, está a distrital do Porto do PSD, que já mostrou considerar os princípios atrás enunciados como incipientes larachas, confessando-se na mão da vontade de Loureiro. Só ver o moralismo que esta mesma distrital debitou no caso Felgueiras e ver-se o que é o descrédito dum agente político! Pondo em causa não só a referida distrital como individualmente as distintíssimas personalidades que querem fazer passar-se por politicamente impolutas, mas cuja posição prática se aguarda, pois há silêncios cúmplices. Mormente a de Rui Rio, o encenador da farsa anti-futebol, afinal apoiante e apoiado de Valentim!
Ao mesmo tempo que estas páginas estão a ser impressas, Valentim Loureiro estará frente a Judite de Sousa na RTP a criar, caso o veto de Marques Mendes se confirme, as condições para uma candidatura independente a Gondomar. Isaltino era o sinal que precisava. E far-se-á assim uma ondícula laranja dos convenientemente independentes que, caso ocorram situações analógicas noutras longitudes, se poderá alargar a outra cores. As desejadas candidaturas independentes, que se suporiam iniciativas directas da sociedade civil, ameaçam surgirem pela via mais perversa…
Será muito curioso ver pessoas, que fizeram toda a “carreira” com o serviço ao partido na boca, virem mostrar como o dito cujo nunca foi mais do que um instrumento das suas ambições pessoais. Adoram os partidos quando lhes servem, deixam-nos quando, tendo-lhes servido, se tornam um obstáculo à sua ambição pessoal. Porque se há toda a legitimidade nas candidaturas independentes, pelas quais sempre batalhámos, não há nenhuma nas que ocorram pelos partidos, e muito bem, rejeitarem submeter a sufrágio popular pessoas suspeitas à justiça.
Exceptuando-se portanto casos como o de Alfredo Barroso, eleito presidente do Redondo pela CDU, que já anunciou candidatura independente, pois as razões da “não-indicação” de recandidatura por parte do PCP resultam unicamente do seu alinhamento político com os “renovadores”, sendo pois mais um caso de perseguição ideológica.
Curioso será também ver como funcionarão as “manobras” dos partidos em tais situações… Particularmente entre as direitas… Se em Oeiras o PSD parece apostar e bem na candidata “natural”, veremos se com Valentim vetado e independente, não arranjarão um qualquer fantoche só para dizerem que apresentam algum e fazerem o frete a Loureiro salvando as aparências… Como está a acontecer com a candidatura do PSD à Amarante, fazendo por não existir, a dar todo o gás a Ferreira Torres, só para… No entanto, em todos os casos, é o caso do gato escondido com o rabo de fora.
(in "Comércio do Porto", 6 de Maio de 2005)
sexta-feira, maio 06, 2005
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2 comentários:
Apoiado Pedro, mas tal como os idependentes sabem distinguir os políticos será que os políticos sabem também distinguir os independentes?
Questões da natureza humana....
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