A fraqueza dos não-argumentos
Pedro Baptista
O BE recusou qualquer coligação com o PS no Porto, utilizando como argumento umas banalidades de tal forma insubstantes que só podem ser classificadas de não-argumentos. Teixeira Lopes, anda de tal forma empavonado com o protagonismo que lhe tem sido dado, que nem se dá ao trabalho de procurar argumentar. Uma atitude que defrauda as expectativas que criou.
O facto de Teixeira Lopes, sem qualquer argumento válido, recusar integrar uma grande coligação de Esquerda, (ou sequer uma coligação só com o PS), para a Área Metropolitana do Porto, incluindo a Câmara do Porto, revela que está disposto a desempenhar o papel que imputa à CDU: ajudar Rui Rio e os outros presidentes de Câmara de Direita da AMP.
Cingindo-nos à do Porto, com a sua recusa, caso ocorram resultados menos positivos à Esquerda, o BE entregará a presidência da Câmara a Rui Rio e o poder à coligação de Direita.
Se o BE diz que a CDU vai ter de explicar ao eleitorado como é que os seus votos acabaram por ajudar Rui Rio a aguentar-se, o que não é novidade, o BE vai poder ter de explicar às pessoas que em si votaram, como é que a sua recusa em integrar uma coligação de Esquerda poderá servir, caso o PS sozinho ou com a CDU não tenha votos suficientes, para dar a vitória a Rio e pô-lo a governar o Porto mais 4 anos!
O BE pensará que extrapolando os resultados das legislativas para as autárquicas elegerá um vereador e por isso não lhe interessaria a coligação em que teria também um vereador. Ora esta brilhante táctica política do BE, que poderá levar à eleição de um vereador ou à ida para o lixo de uns milhares de votos, em qualquer dos casos poderá levar conjuntamente à vitória da coligação PP-PSD e à presidência de Rui Rio. Pois será presidente o cabeça-de-lista que tiver mais votos. Nem que seja só um. Tanto valendo ser como não ser em coligação. Ter como não ter a maioria dos vereadores.
Eis os factos. Donde, pelos vistos, para o BE, Rui Rio não será assim tão mau. Porque devem saber como funciona uma Câmara. Ou então é o brilhantismo do Sr. Teixeira Lopes que empalidece às primeiras provas, revelando o tacticismo dos que põem os mesquinhos interesses partidários acima dos interesses da população.
O eleitorado é livre, nem pertence a partidos, nem repete necessariamente a sua votação na mesma força política. Para o eleitorado só contam os bons argumentos. Donde o BE e Teixeira Lopes que se cuidem: desconhecendo-se a humildade, às vezes, quanto mais se sobe, maior é o trambolhão. Sabendo-se que, na queda livre, os espaços percorridos são proporcionais aos quadrados dos tempos gastos em os percorrer, ou seja, a aceleração é constante.
Mas ainda o mais desconchavado, é a abertura do BE a coligações de esquerda em Lisboa e na AM de Lisboa, ao contrário do Porto. Ou acham que os partidos ou os eleitorados são diferentes, ou é o Sr. Teixeira Lopes diferente dos dirigentes lisboetas, ou então o BE adquiriu aquilo com que o PS acabou: o privilégio político da capital de fazer alianças.
O eleitorado que votou BE perceberá. Quem quer um vasto movimento de todas as forças vivas para derrotar Rui Rio e mobilizar a cidade na senda do progresso e da afirmação, e quem está preso pela jogatina político-partidária, considerando secundário o facto de poder vir a ser o instrumento de uma vitória de Rui Rio.
O PS tem pela frente uma tarefa ciclópica mas com todas as condições para vencer. Unindo o partido, unindo a cidade. Vencerá se no partido trouxer os que querem remar para o mesmo lado, deixando em terra os tradicionais despeitados que optam pelo boicote. E sobretudo se, na cidade, mobilizar todos os sectores intervenientes, num projecto que todos reconhecem como seu. Uma vitória da esquerda que envolva os cidadãos, garanta não haver decisões nas costas das pessoas e onde o presidente da Câmara circule na cidade sem andar escondido. Um Porto que se afirme tornando-se um dos instrumentos da modernização e desenvolvimento do país e seja capaz de enfrentar os seus gravíssimos desafios sociais e ambientais.
(in "Comércio do Porto", 8 de Abril 2005)
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4 comentários:
Muito Bem Pedro!
RS
E tá tudo dito! não se acrescente uma virgula.
Nem mais! Não podia ser mais bem dito. Com a clareza necessária.
completamente arrasador
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